Pesquisa personalizada

sábado, 24 de dezembro de 2011

Mitraísmo


Mitras







Aparece primeiramente como um deus-sol ariano em Sânscrito e na literatura persa por volta de 1400 a.C. Seu culto foi introduzido no império romano no primeiro século a.C.
Mitras foi: nascido de uma virgem no solstício de inverno --- freqüentemente 25 de dezembro no calendário Juliano (o imperador Aureliano declarou o dia 25 de dezembro como o nascimento oficial de Mitras em 270 d.C.) --- e assistido por pastores que trouxeram presentes; cultuado nos Domingos; mostrado com uma nuvem ou halo em volta da cabeça; diz-se ter feito uma última ceia com seus seguidores antes de retornar ao seu pai.; acreditava-se não ter morrido, mas ascendido aos céus, de modo que se acreditava que poderia retornar no fim dos tempos para levantar os mortos em uma ressurreição física para o Julgamento Final, mandando os bons para o Céu e os maus para o Inferno, depois do mundo ter sido destruído pelo fogo; acreditava-se garantir vida imortal depois do batismo. Seguidores de Mitra: seguiam um líder chamado papa, que governava da colina do Vaticano em Roma; celebravam a morte de um salvador que ressuscitou num domingo; celebravam sacramento (uma refeição consagrada de pão e vinho), iam a Myazda (exato correspondente da missa católica, usando sinos, candelabros, incenso e água sagrada, em memória da última ceia de Mitras). O imperador Constantino foi um seguidor de Mitras até declarar o dia 25 de Dezembro como a data oficial do nascimento de Jesus em 313 d.C. e adotar o culto do cristianismo como a religião do Estado.
Bibliografia básica para o estudo do Mitraísmo: Franz Cumont, The Mysteries of Mithra (1903), M. J. Vermaseren, Mithras, the Secret God (1963), David Ulansey, The Origins of the Mithraic Mysteries (1989).


Mistérios de Mitras


Mitras é um deus Indo-Ariano, adorado pelo menos tão cedo quanto em 1400 a.C..
No hinduísmo ele é conhecido como o binomial Mitra-Varuna. Um hino inteiro é dedicado à ele no Rig Veda (3.59). Ele é o Senhor da Luz Divina, protetor da verdade e é invocado quando um contrato ou augúrio é feito.
Na Pérsia (hoje Irã) Mitras era o deus protetor da sociedade tribal, até a reforma do politeísmo persa por Zoroastro (628-55 d.C.).
 Mitras, como os outros deuses e deusas do panteão iraniano, foi despojado de sua soberania e todos os seus poderes e atributos foram atribuídos a Ahura-Mazda. Entretanto, devido à sua popularidade, nós vemos no Avesta (Mehr Yasht) Ahura-Mazda dizendo à Zoroastro: "Em verdade, quando criei Mitras, o Senhor das grandes pastagens, Eu o criei tão digno de sacrifício, tão digno de oração, quanto eu mesmo, Ahura-Mazda."
No Avesta, Mitras ou Mehr (tradução: amor, sol) é o protetor da nação Ariana, trazendo vitória para "aqueles que não mentem junto a Mitras". Ele é a divindade guerreira, de quem todos os demônios fogem em pânico. No Yashet 6, durante uma prece ao sol, Mitras é mencionado novamente como um amigo: "...eu sacrificarei para a amizade, a melhor de todas as amizades, que habita entre a lua e o sol".








O nascimento de Mitras

Mitras também figura na mitologia chinesa, onde é conhecido como "Amigo". Mitras é representado como um general militar em estátuas chinesas e é considerado como um amigo do homem nesta vida e protetor contra o mal na outra.
No ocidente, Mitras é mais bem conhecido como o "culto de Mitras", o qual possuía uma imensa popularidade junto às Legiões Romanas, do final do século 1 até o século 4d.C, tempo em que esteve sob influência das mitologias grega e romana, como outras tradições de mistério daquela época: os mistérios de Elêusis e de Ísis.
O culto de Mitras mantinha-se em segredo e seus ensinamentos eram revelados apenas aos iniciados. Remanescentes de templos de Mitras podem ser encontrados por toda a antiga região do Império Romano, da Palestina através do norte da África, e através da Europa central ao norte da Inglaterra.



Os Ritos de Mitras


Havia sete estágios de iniciação, os quais permitiam o iniciado a proceder através dos setes corpos celestiais. Permitindo o reverso, de que a alma humana descesse para o mundo no nascimento.








corax


O primeiro estágio era o Corax (Corvo) sob Mercúrio. Este estágio simbolizava a morte do iniciado. Na Pérsia antiga era costume expor corpos sem vida para serem devorados por corvos no alto de torres funerais. O corvo como símbolo da morte, pode também ser visto no tarô em cartas de número 13. Neste estágio, o iniciado morre e renasce num caminho espiritual. Um mantra era dado à ele, para que repetisse enquanto seus pecados eram lavados pela água do batismo.





O próximo passo é o Nymphus (noiva-homem) sob Vênus. O iniciado usa um véu e carrega uma lâmpada em sua mão. Ele não pode ver a "luz da verdade", até que o "véu da realidade" é removido. Ele é levado ao culto, e se torna celibatário por pelo menos a duração deste estágio. Ele é uma noiva (amante) de Mitras. Ele também oferece um copo dágua para a estátua de Mitras. O copo representa seu coração e a água seu amor.
Chegando a Miles (soldado) sob Marte, o iniciado tinha de se ajoelhar (submissão à autoridade religiosa), nu (renunciando à vida que passou), vendado e de mãos atadas. Então lhe era oferecida uma coroa na ponta de uma espada.



Moeda de Mitra


Uma vez coroado, suas ataduras eram removidas com uma única estocada da espada e a venda removida. Isto representava sua libertação das ninharias do mundo material. Ele deveria então remover a coroa da cabeça e coloca-la sobre o ombro, dizendo: "Mitras é minha única coroa". (Franz Cumont, The Mysteries of Mithra). Isto também simbolizava a remoção da cabeça (intelecto) em si, permitindo a Mitras ser o único guia.
Neste estágio, o iniciado começa realmente a batalha contra seu "eu" inferior, o soldado combatendo o verdadeiro inimigo.








leo

O estágio de Leo (Leão), é o primeiro dos graus sênior e está sob Júpiter. Ele está entrando no elemento do fogo. Assim, os leões não eram permitidos tocar em água durante o ritual, e em substituição, mel era oferecido ao iniciado para lavar suas mãos e língua. Os leões carregavam a comida para a refeição ritual, que era preparada pelos de grau inferior. As obrigações do leão incluíam atender ao altar da chama sagrada. Este ritual representava a última ceia de Mitras, de pão e vinho, com seus companheiros, antes de sua ascensão aos Céus em sua carruagem do Sol.
O grau de Perses (Persa) sob a Lua. "O iniciado deste grau recebia uma filiação a esta raça, a qual sozinha era digna de receber as mais altas revelações de sabedoria dos Magi". (Franz Cumont, Rapport sur une mission a Rome, In Academic des inscrition et Belle-Letters, Comptes Rendes, 1945 p.428). O emblema para este estágio era a harpa, com a qual Perseu havia decapitado a Górgona. Simbolizando a destruição do baixo e animal aspecto do iniciado. O iniciado era também purificado com mel, estando sob a proteção da Lua. "Mel é associado à pureza e fertilidade da Lua, sendo esta, a que os antigos iranianos acreditavam ser a fonte do mel. E assim a expressão lua-de-mel denota não o período de um mês depois do casamento, mas sim a continuidade do amor e fertilidade na vida de casado". (Dr. Masoud Homayouri, Origin of Persian Gnosis).







pater

No grau de Heliodromus (caminhante do sol) sob o Sol, o iniciado imita o mesmo num banquete ritual. Sentando próximo a Mitras (Pai), vestido de vermelho, cor do Sol, fogo e sangue.
O maior grau de iniciação era o de Pater (Pai) sob Saturno. Ele era o representante de Mitras na Terra, luz do Céu encarnada, o professor da congregação a qual liderava, usando um chapéu vermelho bem como um "par de calças persas vermelhas, carregando um cetro, símbolo de sua oficialidade espiritual". (Charles Daniels, Mithras and his Temples on the Wall).





Mitras também presidia a mudança de estações e o movimento do Céu em si. A imagem de Mitras sacrificando um touro representa, "a precessão dos equinócios; Mitras estava na verdade, movendo o universo inteiro". (Prof. David Ulansey, The Origins of Mithraic Mysteries). Mitras, representado pela constelação de Perseu, muda a posição de toda a esfera celestial, sacrificando a constelação de Touro e movendo a Terra na constelação de Áries no equinócio da primavera. Este "milagre" de Mitras é produto dos astrólogos romanos e de um posterior desenvolvimento que não é visto no Irã ao mesmo tempo. Entretanto a celebração da mudança de estações era levada à cabo por ambos os seguidores do Oriente e Ocidente: Nou-roz (equinócio da primavera), Mehregan (equinócio de outono), Shab-Yalda (solstício de inverno) e solstício de verão.








Templo de Mitra
Conforme o Cristianismo tomava impulso e eventualmente tornava-se a religião do Estado no Império Romano, o Mitraísmo deixou de ser tolerado. O Apologista o via como uma "transversão satânica dos mais sagrados rituais de sua religião" (Franz Cumont, The Mysteries of Mithra). Entretanto, o Catolicismo preservou algumas formas do Mitraísmo, para mencionar exemplos: o dia do Natal; o uso da "mitra" pelos bispos; sacerdotes cristãos chamados de "Padres" (Pais), apesar da proscrição específica de Jesus quanto a aceitação de semelhante título (Mateus 23:9); e "o Pai Santo de Mitras usava um chapéu vermelho e vestimenta e um anel, e carregava um bastão de pastor. O Líder Cristão, adotou o mesmo título e vestia-se da mesma maneira". (William Harwood, Mythologies Last Gods: Yahweh and Jesus). Enquanto a aparência exterior do Mitraísmo pode ser vista no Catolicismo, alguns traços dos ensinamentos interiores do Mitraísmo podem ser encontrados no Sufismo. Assim, um estudo do Sufismo lança nova luz sobre o Mitraísmo e vice-versa.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Os Sete Pecados Capitais



Autor Desconhecido. Fonte: www.sca.org.br

Certo dia um casal ao chegar do trabalho encontrou algumas pessoas dentro de sua casa. Achando que eram ladrões ficaram assustados, mas um  homem forte e saudável, com corpo de halterofilista disse:
- Calma pessoal, nós somos velhos conhecidos e estamos em toda parte do mundo.
- Mas quem são vocês? - pergunta a mulher.
- Eu sou a Preguiça! - responde o homem másculo - Estamos aqui para que vocês escolham um de nós para sair definitivamente da vida de vocês.
- Como pode você ser a preguiça se tem um corpo de atleta que vive malhando e praticando esportes? - indagou a mulher.
- A preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros dos preguiçosos, com ela ninguém pode chegar a ser um vencedor.
Uma mulher velha curvada, com a pele muito enrugada que mais parecia uma bruxa diz:
- Eu, meus filhos, sou a Luxúria.
- Não é possível! - diz o homem - Você não pode atrair ninguém com essa feiúra.
- Não há feiúra para a luxúria queridos. Sou velha porque existo a muito tempo entre os homens, sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter crianças e trazer doenças para todos até a morte. Sou astuta e posso me disfarçar na mais bela mulher.
Um mau cheiroso homem, vestindo uns maltrapilhos de roupas, que mais parecia um mendigo diz:
- Eu sou a cobiça, por mim muitos já mataram, por mim muitos abandonaram famílias e pátria, sou tão antigo quanto a Luxúria, mas eu não dependo dela para existir. Tenho essa aparência de mendigo porque por mais bem vestido que me apresente, por mais rico que seja sempre vou querer o que não me pertence.
- E eu, sou a Gula.- diz uma lindíssima mulher com um corpo escultural e cintura finíssima, seus contornos eram perfeitos e tudo no corpo dela tinha harmonia de forma e movimentos.
Assustam-se os donos da casa, e a mulher diz:
- Sempre imaginei que a gula seria gorda.
- Isso é o que vocês pensam! - responde ela. - Sou bela e atraente porque se assim não fosse seria muito fácil livrarem-se de mim. Minha natureza é delicada, normalmente sou discreta, quem tem a mim não se apercebe, mostro-me sempre disposta a ajudar a busca da luxúria.
Sentado em uma cadeira num canto da casa, um senhor, também velho, mas com o semblante bastante sereno, com voz doce e movimentos suaves, diz:
- Eu sou a Ira. Alguns me conhecem como cólera. Tenho muitos milênios também. Não sou homem, nem mulher assim como meus companheiros que estão aqui.
- Ira? Parece mais o vovô que todos gostariam de ter! - diz a dona da casa.
- E a grande maioria me tem! - responde o vovô. - Matam com crueldade, provocam brigas horríveis e destroem cidades quando me aproximo. Sou capaz de eliminar qualquer sentimento diferente de mim, posso estar em qualquer lugar e penetrar nas mais protegidas casas. Mostro-me calmo e sereno para mostrar-lhes que a Ira pode estar aparentemente manso. Posso também ficar contido no íntimo das pessoas sem me manifestar provocando úlceras, câncer e as mais temíveis doenças.
- Eu sou a Inveja. Faço parte da história do homem desde sua aparição. - diz uma jovem que ostentava uma coroa de ouro cravada de diamantes, usava braceletes de brilhantes e roupas de fino pano, assemelhando-se a uma princesa rica e poderosa.
- Como inveja? Se é rica e bonita e parece ter tudo o que deseja. –diz a mulher da casa.
- Há os que são ricos, os que são poderosos, os que são famosos e os que não são nada disso, mas eu estou entre todos, a inveja surge pelo que não se tem e o que não se tem é a felicidade. Felicidade depende de amor, e isso é o que mais carece na humanidade. Mortes e sofrimento, onde eu estou esta também a Tristeza.
Enquanto os invasores se explicavam, um garoto que aparentava cerca de cinco a seis anos brincava pela casa. Sorridente e de aparência inocente, característica das crianças, sua face de delicados traços mostravam a plenitude da jovialidade, olhos vívidos.
- E você garoto, o que faz junto a esses que parecem ser a personificação do mal?
O garoto responde com um sorriso largo e olhar profundo:
- Eu sou o Orgulho.
- Orgulho? Mas você é apenas uma criança? Tão inocente como todas as outras.
O semblante do garoto tomou um ar de seriedade que assusta o casal, e ele então disse:
- O orgulho é como uma criança mesmo, mostra-se inocente e inofensivo, mas não se enganem, sou tão destrutível quanto todos aqui, quer brincar comigo?
A Preguiça interrompe a conversa e diz:
- Vocês devem escolher quem de nós sairá definitivamente de suas vidas.
Queremos uma resposta.
O homem da casa responde:
- Por favor, dêem dez minutos para que possamos pensar.
O casal se dirige para seu quarto e lá fazem várias considerações.
Dez minutos depois retornam.
- E então? - pergunta a Gula.
- Queremos que o Orgulho saia de nossas vidas.
O garoto olha com um olhar fulminante para o casal, pois queria continuar ali. Porém, respeitando a decisão dirige-se para a saída. Os outros, em silêncio, iam acompanhado o garoto quando homem da casa pergunta:
- Ei! Vocês vão embora também?
O Menino, agora com ar de severo e com a voz forte de um orador experiente diz:
- Escolheram que o Orgulho saísse de suas vidas e fizeram a melhor escolha.
Pois onde não há Orgulho não há preguiça, pois os preguiçosos são aqueles que se orgulham de nada fazer para viver não percebendo que na verdade vegetam.
Onde não há orgulho não há Luxúria, pois os luxuriosos têm orgulho de seus corpos e julgam-se merecedores.
Onde não há orgulho, não há Cobiça, pois os cobiçosos têm orgulho das migalhas que possuem, juntando tesouros na terra e invejando a felicidade alheia, não percebendo que na verdade são instrumentos do dinheiro.
Onde não há orgulho, não há Gula, pois os gulosos se orgulham de suas condição e jamais admitem que o são, arrumam desculpas para justificar a gula, não percebendo que na verdade são marionetes dos desejos.
Onde não há orgulho, não há Ira, pois os irados têm facilidade com aqueles que, segundo o próprio julgamento, não são perfeitos, não percebendo que na verdade sua ira é resultado de suas próprias imperfeições.
Onde não há orgulho, não há Inveja, pois os invejosos sentem o orgulho ferido ao verem o sucesso alheio seja ele qual for, precisam constantemente superar os demais nas conquistas, não percebendo que na verdade são ferramentas da insegurança.
Saíram todos sem olhar para trás, e ao baterem a porta, um fulminante raio de luz invadiu o recinto, e o casal desintegrou-se.
Diz a lenda que eles viraram Anjos!

domingo, 9 de outubro de 2011

A Câmara das Reflexões

Fonte: http://sophia60.org/index.php?option=com_content&task=view&id=81&Itemid=35 

SIGNIFICADO DA CÂMARA

 A Câmara de reflexões, como o seu nome o indica, representa, antes de tudo, aquele estado de isolamento do mundo exterior que é necessário para a concentração ou reflexão íntima, com a qual nasce o pensamento independente e é encontrada a Verdade. Aquele mundo interior para o qual devem dirigir-se nossos esforços e nossas análises para chegar, pela abstração, a conhecer o mundo transcendente da Realidade. É o "gnosthi seautón" ou o "conhece-te a ti mesmo" dos iniciados gregos, como único meio direto e individual para poder chegar a conhecer o Grande Mistério que nos circunda e envolve nosso próprio ser. 

ELEMENTOS E SÍMBOLOS PRESENTES NA CÂMARA

  A Cor Negra
 O negro simboliza as trevas, a ausência da luz. O lugar de perpétuo esquecimento para onde nos conduz as paixões, os vícios e a ignorância. Jung considera a cor negra como o lado sombrio da personalidade.

  Crânio e Esqueleto
 Ambos simbolizam o ciclo iniciático: a brevidade da vida e a morte corporal, prelúdio do renascimento em um nível de vida superior, e condição do reino do espírito. Símbolo da morte física, o crânio corresponde à putrefação alquímica, assim como a tumba corresponde à fornalha (atanor): o homem novo sai do cadinho onde o homem velho se extingue para transformar-se. Crânio e Esqueleto representam não uma morte estática, definitiva, mas, sim, uma morte dinâmica, anunciadora e instrumento de uma nova forma de vida. O crânio, com seu sorriso irônico e seu ar pensativo, simboliza o conhecimento daquele que atravessou a fronteira do desconhecido, daquele que, pela morte, penetrou no segredo do além. O crânio é muitas vezes representado entre duas tíbias cruzadas em x, formando uma cruz de Santo André, símbolo das oposições dentro da natureza sob a influência predominante do espírito. Ambos significam, em uma palavra, Transformação.

  Ampulheta
 Simboliza o escoamento inexorável do tempo que se conclui, no ciclo humano, pela morte. A forma da ampulheta, com os seus dois compartimentos, mostra a analogia entre o alto e o baixo, assim como a necessidade, para que o escoamento se dê para cima, de virar a ampulheta. Assim, a atração se exerce para baixo, a menos que mudemos a nossa maneira de ver e de agir. O vazio e o pleno devem suceder-se; há, portanto, uma passagem do superior ao inferior, isto é, do celeste ao terrestre e, em seguida, através da inversão, do terrestre ao celeste. O filete de areia, que corre de um para outro compartimento, representa as trocas entre o Céu e a Terra: a manifestação das possibilidades celestes e a reintegração da manifestação na Fonte divina. O estrangulamento no meio é a porta estreita por onde se efetuam as trocas. A ampulheta está presente na Câmara como que sugerindo, ao postulante, que não relegue para o amanhã o abandono das paixões, nem a procura da virtude, pois talvez não venha a ter mais tempo, já que o tempo é agora.

  As Iniciais V.I.T.R.I.O.L.
 Iniciais de uma fórmula célebre entre os alquimistas e que condensava a sua doutrina: Visita Iteriorem Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem, ou seja, Visita ou Explora o interior da terra. Retificando, encontrarás a pedra oculta...o que significa dizer: Desce ao mais profundo de ti mesmo, bem além das aparências exteriores, e encontrarás a pedra oculta (ou o núcleo indivisível), sobre o qual poderás construir uma nova personalidade, um homem novo. Trata-se da reconstrução de si próprio a partir dos vários graus de inconsciência, de ignorância e de preconceitos, em direção à incontestável consciência do ser, o que permite ao homem descobrir a presença imanente e transformadora de Deus nele.


O Grão de Trigo 
O quarto de reflexões constitui a prova da terra - a primeira das quatro provas simbólicas dos elementos - e, através de sua analogia, somos conduzidos aos Mistérios de Elêusis, nos quais o iniciado era simbolizado pelo grão de trigo atirado e sepultado no solo, para que germinasse; abrisse, por seu próprio esforço, um caminho para a luz. A semente, na qual se encontra em estado latente ou potencial toda a planta, representa muito bem as possibilidades latentes do indivíduo que devem ser despertadas e manifestadas à luz do dia, no mundo dos efeitos. Todo ser humano, é, efetivamente, um potencial espiritual ou divino, idêntico ao potencial latente da semente, que deve ser desenvolvido ou reduzido à sua mais plena e perfeita expressão, e este desenvolvimento é comparável, em todos os sentidos, ao desenvolvimento natural e progressivo de uma planta. Assim como a semente, para poder germinar e produzir a planta, deve ser abandonada ao solo, onde morre como semente, enquanto o germe da futura planta começa a crescer, assim também, o homem, para manifestar as possibilidades espirituais que nele se encontram em estado latente, deve aprender a concentrar-se no silêncio de sua alma, isolando-se de todas as influências externas, morrendo para seus defeitos e imperfeições a fim de que o germe da Nova Vida possa crescer e manifestar-se. Uma vez que o Germe espiritual, a Divina Semente de nosso ser, é imortal e incorruptível, esta morte - como toda forma de morte, sob um ponto de vista mais profundo - é simplesmente o despojo de uma forma imperfeita e a superação de um estado de imperfeição, que foram no passado um degrau indispensável ao nosso progresso, mas que na atualidade transformaram-se numa limitação e ao mesmo tempo numa necessidade; na oportunidade e na base para um novo passo adiante. Essa imperfeição ou limitação que deve ser superada - os estreitos limites em que se acha enclausurado nosso pensamento e nosso ser espiritual pelos erros e falsas crenças assimiladas na educação e na vida profana - é o que simboliza a casca da semente, produzida por esta como proteção necessária em seu período de crescimento, e inteiramente análoga à casca mental de nosso próprio caráter e personalidade.

  O Pão e a Água 
O pão é, evidentemente, símbolo do alimento essencial. Se é verdade que o homem não vive só de pão, apesar disso, é o nome de pão que se dá à sua alimentação espiritual. Entre os cristãos, o Cristo eucarístico é o pão da vida. Os pães da proposição dos hebreus também têm o mesmo significado. Esse pão representa a presença de Deus no íntimo de cada um de nós. A água representa: fonte de vida; meio de purificação e centro de regeneração. As águas, massa indiferenciada, representando a infinidade dos possíveis, contêm todo o virtual, todo o informal, o germe dos germes, todas as promessas de desenvolvimento. Mergulhar nas águas, para delas sair sem se dissolver totalmente, salvo por uma morte simbólica, é retornar às origens, carregar-se de novo, num imenso reservatório de energia e nele beber uma força nova. A água é símbolo da Mãe Natureza, geradora de Vida material, mas, também, da vida espiritual e do Espírito, oferecidos por Deus e muitas vezes recusados pelos homens.

  O Sal, o Enxofre e o Mercúrio 
O sal é, ao mesmo tempo, conservador de alimentos e destruidor pela corrosão. O alimento sal, condimento essencial e fisiologicamente necessário, é evocado na liturgia batismal; é sal da sabedoria, símbolo do alimento espiritual. O sal era, para os hebreus, um elemento importante de ritual: toda vítima tinha de ser consagrada pelo sal. O consumo do sal em comum toma, às vezes, o valor de uma comunhão, de um laço de fraternidade. Compartilha-se o sal como o pão. Consumir com alguém o pão e o sal significa uma amizade indestrutível. O sal simboliza também a incorruptibilidade. É por isso que a aliança do sal designa uma aliança que Deus não pode romper (Números 18,11; Crônicas, 13,5).O sal pode, também, ter outro sentido simbólico e opor-se à fertilidade. Nesse caso, a terra salgada significa terra árida, endurecida. Os romanos jogavam sal nas terras que destruíam para tornar o solo para sempre estéril. Os místicos às vezes comparam a alma a uma terra salgada que deverá ser fertilizada pelo orvalho da graça. Tudo que é salgado é amargo, a água salgada é, portanto, uma água de amargura que se opõe à água doce fertilizadora. Por fim, o sal é símbolo da palavra empenhada, porque o seu sabor é indestrutível. O enxofre é o princípio ativo da alquimia, aquele que age sobre o mercúrio inerte e o fecunda, ou o mata. O enxofre corresponde ao fogo, como o mercúrio à água. É o princípio gerador masculino (yang). Manifesta a vontade celeste e a atividade do Espírito (ex.: chuva de enxofre sobre Sodoma). Para os alquimistas, o enxofre está para o corpo como o sol está para o universo. Sua cor amarela querendo comparar-se a do ouro, dá-lhe um sentido de engodo, de falsidade, próprio do senhor das trevas. A chama amarela esfumaçada com enxofre é, para a Bíblia, a antiluz atribuída ao orgulho de Lúcifer. É a luz transformada em trevas. É um símbolo de culpa e punição. O mercúrio é o símbolo alquímico universal e do princípio passivo, úmido (yin). Corresponde aos humores corporais, o sangue, o sêmen, aos rins, ao elemento Água. Segundo as tradições ocidentais, o mercúrio é a semente feminina e o enxofre, a masculina: sua união produz os metais. Astrologicamente, Mercúrio vem imediatamente após o Sol, astro da vida, e a Lua, astro da geração, isto é, da manifestação da vida no nosso mundo transitório. Se o Sol é o Pai Celeste, e a Lua, a Mãe Universal, Mercúrio se apresenta como o filho deles, o Mediador, o princípio da Inteligência e da Sabedoria. Mercúrio, o deus da mitologia, diligente e provido de asas nos pés, tinha o ofício de mensageiro do Olimpo. Tendo herdado características tanto de seu Pai, como de sua Mãe, apresenta natureza dualista, na qual se confrontam os princípios contrários e complementares: trevas-luz, baixo-alto, esquerda-direita, feminino-masculino, certo-errado, etc. O pensamento em todos seus aspectos nasce naturalmente no indivíduo, da ação e relação entre as tendências ativas e passivas, entre o amor e o ódio, a atração e a repulsão, a simpatia e a antipatia, o desejo e o temor. Cresce e adquire sempre maior força, independência e vigor quando lutam entre si o instinto e a razão, a vontade e a paixão, o entusiasmo e a desilusão. Eleva-se e floresce, sempre mais livre, claro e luminoso, conforme aprende a seguir seus ideais e aspirações mais elevadas, e quando estas conseguem sobrepor-se à sua ignorância, erros e temores, assim como às demais tendências passionais e instintivas. Mercúrio é o agente harmonizador dos contrários, que procura colocar a ordem no caos. Em cada um de nós, o processo mercuriano é o auxiliar do Ego, encarregado de nos desviar da subjetividade obscurecedora. Diante da dupla pressão dos impulsos interiores, ele é o melhor agente de adaptação à vida.

  O Galo É, universalmente, símbolo solar, porque seu canto anuncia o nascimento do Sol e, por extensão, do surgimento da Luz. Representa a vigilância, pois com seu canto avisa todos a boa nova, ou seja, que um novo dia está surgindo. Assim, todo o maçom, qual galo de vigília, deve estar atento para perceber, na dissipação das trevas da noite que morre (as paixões e os vícios), os primeiros clarões (as virtudes) do espírito que se levanta. O galo é, portanto, a representação esotérica do despertar da consciência e da ressurreição do candidato, que, devendo morrer para a vida “profana”, ressurge num plano mais elevado de espiritualidade.

  O Testamento
 O novo nascimento ou regeneração ideal que indica, em todos seus aspectos, a câmara de reflexões, tem finalmente o seu selo e concretiza-se por um testamento, que é fundamentalmente um atestado ou reconhecimento de seus "deveres", ou seja, de sua tríplice relação construtiva: com o princípio interior (individual e universal) da vida, consigo mesmo como expressão individual da Vida Una, e com seus semelhantes, como expressão exterior da própria Vida Cósmica. Trata-se de um testamento iniciático bem diferente do testamento ordinário ou profano. Enquanto este último é uma preparação para a morte, o testamento simbólico pedido ao recipiendário, antes de sua admissão às provas, é uma preparação para a vida - para a nova vida do Espírito para a qual deve renascer. Morte e nascimento são, na realidade, dois aspectos intimamente entrelaçados e inseparáveis de toda mudança que se verifica na forma e na expressão, interior e exterior, da Vida Eterna do Ser. Na economia cósmica, e da mesma forma na vida individual, a morte, cessação ou destruição de um aspecto determinado da existência subjetiva e objetiva, é constantemente acompanhada de uma forma de nascimento. Assim, pois, só em aparência os consideramos como aspectos opostos da Vida, ou como seu princípio e fim, enquanto indicar simplesmente, uma alteração ou transformação, e o meio no qual se efetua um progresso sempre necessário, ainda que a destruição da forma não seja sempre sua condição indispensável. Como emblema da morte do homem profano, indispensável para o nascimento do iniciado, o testamento que faz o candidato é um testamento do qual ele mesmo será posteriormente chamado a converter-se em executor, é um Programa de Vida que deverá realizar com uma compreensão mais luminosa de suas relações com todas as coisas. A primeira relação ou "dever" do testamento é a do próprio indivíduo com o Princípio Universal da Vida, uma relação que tem de reconhecer-se e estabelecer-se interiormente, e não sobre a base das crenças ou prejuízos, sejam positivos ou negativos. Não se pergunta ao candidato se crê ou não em Deus, nem qual é seu credo religioso ou filosófico; para a Maçonaria todas as "crenças" são equivalentes, como outras tantas máscaras da Verdade que se encontram atrás ou sob a superfície delas e somente à qual aspira a conduzir-nos. O que é de importância vital é nossa íntima e direta relação com o Princípio da Vida, qualquer que seja o nome que lhe dê externamente, e o conceito mental que cada um possa ter formado ou dele venha a formar, uma relação que é estabelecida na consciência, além do plano da inteligência ou mentalidade ordinária. A consciência desta relação, que é Unidade e Individualidade, traduz-se no sentido da primeira pergunta do testamento: "Quais são os vossos deveres para com Deus?" A segunda: "Quais são os vossos deveres para com vós mesmos?" nada mais é do que a conseqüência da primeira. Tendo-se reconhecido, no íntimo de seu próprio ser, naquela solidão da consciência que está simbolizada pela câmara de reflexões como uma manifestação ou expressão individual do Princípio Universal da Vida, o candidato é chamado a reconhecer o modo pelo qual sua vida exterior se encontra intimamente relacionada com o que ele mesmo é interiormente, e como a compreensão desta relação tem em si o poder de dominá-la e dirigi-la construtivamente. O homem é, como manifestação concreta, o que ele mesmo se fez e faz constantemente, com seus pensamentos conscientes e subconscientes, sua maneira de ser e sua atividade. Seu primeiro dever para consigo mesmo é realizar-se e chegar sempre a ser a mais perfeita expressão do Princípio de Vida que nele busca, e encontra uma especial, diferente e necessária manifestação, deduzindo ou fazendo aflorar à luz do dia, as possibilidades latentes do Espírito, aquela Perfeição que existe imanente, mas que só se manifesta no tempo e no espaço, na medida do íntimo reconhecimento individual. Quanto aos deveres para com a humanidade, estes representam um sucessivo reconhecimento íntimo que é complemento necessário dos dois primeiros: tendo-se reconhecido como a manifestação individual do Princípio Único da Vida, e sabendo que ele é por fora o que realiza por dentro, deve acostumar-se a ver em todos os seres outras tantas manifestações do próprio Princípio. Deste reconhecimento, brota como conseqüência necessária o seu dever ou relação para com a humanidade, que não pode ser outra coisa que a própria fraternidade. A compreensão desta tríplice relação é o princípio da iniciação, o início efetivo de uma nova vida, o testamento ou doação que é feita para si próprio, preparando-se para executá-lo. É a preparação necessária para as viagens ou etapas sucessivas do progresso que o aguardam.

 José Carlos Michel Bonato -
M.: I.: Loja Simbólica Sophia Nº 60

 BIBLIOGRAFIA:
Pequeno Ensaio de Simbólica Maçônica, de René Joseph Charlier Liturgia e Ritualística do Grau de Aprendiz Maçom, de José Castellani Grau de Aprendiz e seus Mistérios, de Jorge Adoum Manual Del Aprendiz, de Aldo Lavagnini (Magister) Diccionario de Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant. Pesquisa em diversos sites na Internet.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Do Amor - Khalil Gibran


Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Sabedoria do Desapego



Prestes a entrar em combate com os poderosos senhores da noite, seus familiares e amigos de infância, Arjuna, o guerreiro perfeito, desfalece e cogita abandonar a luta. Estimulado por Krishna, seu conselheiro espiritual, ouviu dele a explanação dos motivos que o levavam ao combate. “A Sabedoria do Desapego”, breve diálogo de Krishna com Arjuna, é o cerne de toda a Bhagavad Gita.

Bom é agir e bom é abster-se da atividade; tanto isto como aquilo conduz à meta suprema. Mas, para o principiante, melhor é agir corretamente.

O verdadeiro renunciante é somente aquele que nada deseja e nada recusa, inatingido pelos opostos, tanto no seu agir como no seu desistir; não afetado nem por esperança nem por medo.

Os ignorantes tecem teorias sobre o agir e o conhecer, como se se tratasse de duas coisas distintas: mas os sábios estão convencidos de que quem faz isto, não deixa de colher os frutos daquilo.

O reino da quietude que os sábios conquistam pela meditação é também conquistado pelos que praticam ações; sábio é aquele que compreende que essas duas coisas – a consciência mística e a ação prática – são uma só em sua essência.

Difícil tarefa, herói, é alcançar o estado de renúncia sem ação e sem que o espírito da fé penetre o coração. O sábio que, pela força da verdade, renuncia a si mesmo, integra-se em Brahman.

Esse é puro de coração, forte no bem e senhor de todos os seus sentidos; a sua vida está a serviço da vida de todos, e ele realiza todas as ações sem ser escravizado por nenhuma delas.

Porquanto reconhece que não é ele que age, quando vê, ouve ou sente.

Pois, quando vê ou ouve, cheira ou come, dorme ou respira, quando abre ou fecha os olhos, quando dá ou recebe ou exerce outro ato sensório qualquer – não são senão seus sentidos que operam com esses objetos externos.

Quem tudo faz sem apego ao resultado dos seus atos faz tudo no espírito de Deus, e, como a flor de lótus, incontaminada pelo lago em que vive, permanece isento do mal.

Com todas as forças do espírito, da mente, do coração e do corpo luta o yogui pela purificação de sua alma, sem nada buscar para si mesmo em tudo o que faz.

Quem a tudo renuncia, jubiloso, alcança, já agora, a mais alta paz do espírito; mas quem espera vantagem das suas obras é escravizado pelos seus desejos.

O sábio que, em corpo terrestre, se libertou do egoísmo, habita, mesmo quando age, no céu da sua paz, na “cidade dos nove portais”; não tem desejos, nem induz outros a terem desejos.

O Senhor do Universo não cria a ação nem o impulso de agir, nem o desejo dos frutos da atividade – tudo isso nasce da natureza finita do indivíduo.

O Senhor do Universo não toma sobre si as culpas dos homens, porque está acima de todas as ações, perfeito em si mesmo. Erram os homens por sua própria ignorância, porque a luz da verdade está envolta nas trevas da ilusão.

Mas quando as trevas sedem à luz, amanhece o dia, e, assim como o sol em pleno esplendor, revela-se ao Ser Supremo.

Quem se integra no Ser Supremo e nele repousa está livre da incerteza e trilha caminho luminoso, do qual não há retorno, porque a luz da verdade o libertou do mal.

Quem vive na luz da Verdade vê Deus em todos os seres – no brâhmane e no cão, no elefante e na vaca, e até no desprezado paria.

Os que estão firmes na luz da verdade venceram o mundo, já aqui na terra, pela fé na harmonia universal; porquanto Brahman transcende todas as condições da dualidade, habitando na suprema unidade – quem o conhece, repousa em Brahman.

Quem vive firmemente consolidado na consciência de Brahman não sucumbe à alegria, na prosperidade, nem à frustração, na adversidade – mas remonta à claridade sem nuvens e se integra na Divindade.

Quem preserva sua alma livre de todas as coisas que vêm de fora realiza o seu verdadeiro EU, atinge a Paz Profunda, a beatitude do verdadeiro ser.

As alegrias que brotam do mundo dos sentidos encerram germes de futuras tristezas; vêm e vão; por isso, ó príncipe, não é nelas que o sábio busca a sua felicidade.

Feliz é aquele que, durante a vida terrestre, consegue libertar-se dos impulsos que geram paixão e ódio, estabelecendo-se firmemente no espírito da união com Deus.

É ele, na verdade, um santo, que encontra o céu dentro de si mesmo; a sua vida é uma com Brahman e abre-se-lhe a porta do nirvana.

É assim que os rishis, livres de incertezas e senhores de si mesmos, já aqui na terra, entram no nirvana da Divindade, vivendo a vida de todos os seres.

Todos os que, libertos de ódio e paixões, fortes na humildade e iluminados pela fé, superaram o seu ego humano e realizaram em si o Eu divino, todos eles se aproximaram da verdadeira Paz em Deus.

O yogui que habita na luz, que se abstém do contato com o mundo dos sentidos, cujo olho espiritual se abriu e cuja respiração espiritual se sintonizou com a respiração corporal.

Ele, que repleto da virtude de Deus, governa o coração e a mente, e, sem egoísmo, anseia pela redenção – esse se libertou de si mesmo e vive na paz eterna, aqui e por toda a parte.

Ele sabe, que EU SOU a Essência em todas as Existências; eu, o Imanifesto em todos os Manifestos: eu, a suprema e imutável Realidade em todos os mundos em incessante mutação; eu, refúgio e proteção de todas as criaturas. Quem isto sabe, encontrou a paz...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Golem e o Adão


Por: Joana de Mello Moser
Universidade Autónoma de Lisboa


Origem do mito
Diz a lenda que o mito do Golem nasceu da mística hebraica do séc. XIII. O Golem – matéria informe – ter-se-ia tornado num homúnculo a partir da invocação mágica de um nome. Terá sido Elijah de Chelm quem criou o Golem a partir do barro, ao escrever na sua fronte o "Shemhamforash" – nome secreto de Deus. Assim lhe foi concedido o poder da vida, mas não o poder da palavra. Quando o Golem atingiu um tamanho e força sobrehumanos, o criador, temendo as suas potencialidades destrutivas, apagou--lhe o nome da testa e ele transformou-se em pó.
Rezam algumas versões da lenda que não foi o nome de Deus mas a palavra "emet" – "verdade" – que foi inscrita na sua testa. A destruição do Golem verificou-se quando
se apagou a primeira letra, tendo restado a palavra "met" que significa morte.
O motivo central deste mito é o acto da criação, tal como vem descrito no Livro do Génesis – criar um homem a partir da terra, dar vida à matéria, desafiar e copiar Deus –, pelo que na perspectiva cristã esta é uma temática considerada absolutamente prometaica.
Na opinião de Aglaja Hildenbrock (1986: 65), a lenda do Golem tem uma componente folclórica e outra teológica. No que respeita à componente folclórica, conta-se que certo dia o Rabbi Low (Praga, séc. XVI) se propôs criar um servo a partir do barro, o terá "animado" por fórmulas mágicas através do nome de Deus, mas que mais tarde o teve de destruir, porque ele tinha entrado num descontrolo total. Apesar de o Rabbi ser considerado sábio e santo, a criação do Golem foi vista como um acto melindroso e problemático, cuja ambivalência se manifesta na dupla natureza do Golem: por um lado possui um corpo dotado de forças naturais, por outro, é mudo e não tem alma, não devendo ser considerado um ser humano na verdadeira acepção da palavra: é insensível, mas obediente; um ser sem passado nem futuro, sem duração e sem memória.
Assim, embora criado como Adão a partir da terra, o Golem não tem sentimentos nem capacidades intelectuais; ele "escuda-se" na pessoa do Rabbi Low – "a sua potência espiritual" –, o que nos leva a pensar que o Golem é um "duplo" do Rabbi.
No que respeita à componente teológica, tudo se passa de forma diferente: a Adão, a vida e a palavra são dadas por meio do sopro divino. Criado a partir da melhor porção de terra criteriosamente seleccionada no centro do mundo, o monte do Sião, ele deverá ser entendido como a reunião de todos os elementos de que é constituído, ou como a súmula dos quatro pontos cardeais, a partir dos quais é feito (Scholem, 1966: 181.2).
Adão será pois a totalidade; ele pertence um pouco a todo o lado. O Adão que o sopro de Deus ainda não insuflou é neste sentido como o Golem, que significa "sem forma".
Numa célebre passagem do Talmud que G. Scholem expõe numa das suas obras, vêm descritas as doze primeiras horas de Adão: "durante a primeira hora reuniu-se a terra; na segunda, esta foi amassada e tornou-se "Golem" – uma massa ainda informe; na terceira hora moldaram-lhe os membros e na quarta deram-lhe uma alma; na quinta hora já se mantinha de pé e na sexta nomeou todos os seres vivos da terra" (ibidem).
De acordo com este passo, Adão encontrava-se ainda em estado bruto – não tinha ainda alma nem tão pouco falava – ao nomear as coisas. As opiniões dos grandes estudiosos divergem no que acima foi dito. Citamos a propósito um passo que Scholem menciona nas suas obras La Kabbale et sa Symbolique e em A Cabala e a Mística Judaica. Na primeira diz-nos que num Midrash dos séculos II e III, Adão vem descrito como sendo "um Golem de tamanho e força cósmicos a quem Deus terá mostrado as gerações futuras, quando Adão ainda se encontrava ‘sem vida’ e não falava" (idem, 182); na segunda refere que o ponto de partida para a doutrina da trans-figuração das almas, que começou a ter impacto entre os cabalistas a partir dos meados do séc. XVI, foi um velho Midrash que narra que quando Adão jazia, ainda sem vida, como mero Golem, Deus lhe mostrara os justos que proviriam da sua semente. Todos estavam dependentes do seu corpo, alguns pendurados na sua cabeça, outros nos seus cabelos, no seu pescoço, (...) na sua boca e nos seus braços" (Scholem, 1990: 207. 5).
Os cabalistas interpretaram estas palavras do seguinte modo: se todas as almas do gênero humano se encontravam em Adão, era porque Adão antes da queda formava "um corpo místico", um ser cósmico no qual se organizava "a substância anímica de todos os níveis de realidade, do mais elevado ao mais baixo". Adão era assim a verdadeira Alma que Deus criara, o reflexo da realidade espiritual.
A questão que se coloca agora é a seguinte: Quem é Adão?
Terá ele "assistido" à criação do mundo?
Pela citação do Midrash que referimos, parece haver aqui dois aspectos a considerar: Como poderá Adão ter nomeado as coisas da terra numa fase em que não possuía ainda uma alma nem tinha o poder da palavra, o que para os cabalistas significa que ainda não tinha sido dotado de razão, pois para eles a palavra é a faculdade mais elevada que um "ser" pode possuir. Mas esta mesma citação pode levar-nos a concluir que foi nestas primeiras horas de vida de Adão (o Golem), precisamente o espaço situado entre a segunda e a quarta, que se verificou todo o mecanismo da criação.
Alexandre Safran formula uma explicação para estas questões: "Se unir a inteligência ao amor e souber pôr a sua conduta ao serviço do bem, o homem está em condições de se aproximar do modelo divino, pois ele é o único ser cuja natureza está dividida: é matéria, mas também é espírito e é isso que faz com que tenha um lugar especial no seio da criação" (Safran, 1960: 324.6). Essa também a razão por que tem sempre uma grande tendência para distinguir em todos os elementos do universo um aspecto duplo: o material e o espiritual. Compreendemos assim que matéria e espírito remontam a um pensamento original/ espiritual, que corresponde aos dois aspectos da criação: "a bondade, que é de ordem espiritual, e a verdade, que é de ordem racional, científica" (ibidem).
"No princípio era o Verbo..."
O Verbo é aquilo que surge em primeiro lugar e antes de tudo. É um atributo divino, o sopro da criação que no momento original se identifica com a Palavra. É a manifestação de um princípio visível e espiritual que é Deus, de onde tudo emana e que se confunde, no início, com o nome de Deus, o que significa que entre o nome e a coisa não há distinção.
Alef, o puro sopro, permite a transmutação do nada original – o caos – para o cosmos. Quando se diz "faça-se", inicia-se o processo da criação, a viragem marcada de uma "matéria informe" para qualquer coisa que ganha forma. Deus disse: "Faça-se a luz". E a luz foi feita. E Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Chamou dia à luz e às trevas, noite.
A identidade indiferenciada vai dar lugar a um sistema de opostos: é uma "força" da qual a linguagem brota e dela o próprio mundo criado. "Façamos o homem à Nossa imagem, à Nossa semelhança". E assim Deus cria depois o homem a partir do barro, a quem é insuflado o sopro divino e é dada a capacidade da linguagem.
É, pois, Adão quem vai dar o nome às "coisas". Esta possibilidade de "nomear" acontece ainda numa fase paradisíaca em que a linguagem humana é reflexo divino. A essência espiritual reporta para um momento primitivo em que havia um sentido profundo da interligação entre a Palavra e a coisa, porque nas origens o nome não é conteúdo.
Não há separação entre conteúdo e forma, porque tudo se (con)funde. Mas no momento em que Deus concede ao homem o dom da linguagem, coloca--o acima da Natureza e inicia-se a divisão. O homem vai nomear aquilo que é Uno e nomear é conhecer. Conhecer é separar.
A contradição é própria do homem, que acaba por entender que é da tensão dos opostos que nasce a união. E é quando toma consciência do seu estado de pecado – de "separação" – que se encontra em vias de proceder à reunificação dos elementos divididos.
De tão diferenciada, a linguagem acaba por perder a sua unidade primordial e estilhaça-se. O homem – como a linguagem – dá-se conta de todo esse desmembramento e tem vontade de regressar. Com toda a ambiguidade que encerra, o mito da criação tornou-se de há muito um desafio para o homem: para além de se propor dar vida a um ser criado a partir da terra, ele precisava descobrir a maneira de o "animar".
Foi assim que, a partir de muitas combinações de letras do alfabeto hebraico, pensou ter chegado à fórmula mágica, criando um "Golem" de barro ao mesmo tempo que pronunciava essas combinações. Mas tudo não passou de uma ilusão, pois a desintegração a que Adão foi sujeito e que constituiu a sua queda nunca se poderia verificar com o Golem.
O versículo 3,19 do Livro do Génesis elucida-nos um pouco sobre este tema. "Tu és pó e em pó te tornarás"!, disse Deus. Mas ao passo que o homem se liberta do seu corpo ao tornar-se pó, regressando pela parte espiritual ao "Uno", com o Golem – que não tem espírito – não pode verificar-se a re/ integração: o Golem transforma-se em pó e dele não resta nenhum vestígio.
É este, a meu ver, o segredo que o homem procura: conseguir dar uma alma a um ser por si fabricado.

Sugestão de Leitura:
O Golem Narração por Elie Wiesel
O Golem por Gustav Meyrink

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Uso Teúrgico dos Salmos

Tradução por Geórgia Nuño Racca


A Fonte desse material vem do trabalho do Abade Julio, renomado curandeiro, exorcista e contemporâneo de Papus, ora traduzido e oferecido por Mouni Sadhu em seu livro chamado “Theurgy1”.

O acesso a este ensaio deve ser respeitado como uma Verdade Sagrada e espera-se que seja tratado com seu devido valor.

Como a Teurgia difere da oração comum, é necessária uma preparação preliminar.

1. Os teúrgicos têm o conhecimento de que são meros instrumentos da Divindade. Procuram não impor suas próprias vontades. As operações teúrgicas têm como principio um profundo conhecimento que Deus é Amor, e deseja o melhor para toda sua Criação, sem exceções.

2. Toda operação teúrgica é desenvolvida com uma profunda convicção em Deus, o que se faz importante para os Teúrgicos desenvolverem com perspicácia. Qualquer preocupação ou dúvida poderá impedir seriamente a livre corrente de energia. De forma alguma a operação teúrgica deverá ser tentada se alguma dúvida aparecer e não for eliminada sendo deixada de lado, através por exemplo, por um período preliminar de oração, contemplação e meditação.

3. Todo tipo de estimulantes ou intoxicantes, como café, tabaco, vinho, carne e sexo deverão ser evitados por no mínimo 8 horas antes da operação. Muitos insistem em seguir uma total dieta vegetariana.

4. Ambos, teúrgico e o local de trabalhos deverão estar num estado purificado, limpo em todos os sentidos. Normalmente, toma-se uma ducha rápida e veste-se com uma manta ou túnica apropriada para a atividade. Isto tudo ajuda a elevar a vibração interior.

5. O lugar deverá estar perfeitamente limpo e purificado por água e abençoado com incenso.

6. Na Abertura deverá o iniciado estar consciente de pedir a ajuda de todos os Anjos, Santos e demais Iniciados desta linhagem ou à aqueles que encontra uma profunda conexão.

7. Nenhuma quantia de dinheiro aceita para qualquer operação teúrgica. É impossível “comprar” coisas Celestiais com dinheiro terreno.

8. Os teúrgicos devem estar empregados e livres de débitos em todos os sentidos quantos forem possíveis. Argumentos e discordâncias são melhor resolvidas antes de entrar no local das operações teúrgicas.

9. Uma vida diária de oração, serenidade e calma devem ser especialmente cultivadas, desde que ajude a “carregar” a bateria teúrgica. Discursos desnecessários, crítica e fofoca deverão ser reduzidos ao máximo.

10. Os instrumentos Teúrgicos como velas, recipientes com óleo abençoado e água sagrada devem ser mantidos em lugar apropriado ou especial, roupas, mantas ou túnicas, toalha do altar, livros sagrados, deverão ser usados e manuseados apenas por companheiros aspirantes e iniciados.

Um Típico Ritual Teúrgico

Nunca se deve tentar praticar as operações teúrgicas de modo frívolo. Além do mais, é necessário estar inteiramente convencido de que os atos trazem benefícios no Plano Divino.

Após a purificação do local, inicia-se com as invocações, O Sinal da Cruz , ascender uma vela e queimar um incenso.

Os Salmos são ditos vagarosamente e com consciência.

Após um breve período de meditação e agradecimentos, apaga-se a vela e diz “AMEM” o que significa “selado na confiança”.

É aconselhado beber um copo d’água e após retornar ao local e guardar tudo o que foi usado, então, imediatamente voltar aos afazeres diários.



1 – Sadhu, Mouni: Theurgy: The Art of Effective Worship, Aeon Books
Link Amazon

terça-feira, 23 de agosto de 2011

AS NOVE RESPOSTAS DE UM SÁBIO


Fonte desconhecida.





Tales de Mileto nasceu em Tebas no ano de 625 a.c. Morreu em Atenas, a 547 a.c., aos 78 anos.

Foi um filósofo grego, fundador da escola Jónica, considerado como um dos sete sábios da Grécia.

Matemático, astrônomo, e grande pensador, Tales de Mileto percorreu o Egito, onde realizou estudos e entrou em contato com os mistérios da religião egípcia. É atribuída a ele a previsão de um eclipse do Sol, no ano de 585 a.C. Também realizou uma façanha incrível: seu talento matemático era tão incomum, que conseguiu estabelecer com precisão a altura das pirâmides apenas medindo-lhes a sua sombra. Além disso, ainda foi o primeiro a dar uma explicação lógica para as ocorrências dos eclipses.

Se destacou principalmente por seus trabalhos em filosofia e matemática. Nesta última ciência, lhe atribuem as primeiras “demonstrações” de teoremas geométricos mediante o raciocínio lógico e, por isto, o consideram o Pai da Geometria.
Foi o primeiro a sustentar que a Lua brilhava por reflexo do Sol e ainda determinou
o número exato de dias que contém um ano.

Para provar que o conhecimento que desenvolvera tinha utilidade prática direta, afirmou que num determinado ano a colheita de azeitonas seria excepcional. E arrendou a maioria das destilarias de azeite de Mileto. Ganhou um bom dinheiro
com a operação, apenas para ter o prazer de fazer calar os que diziam ser a Filosofia uma inutilidade ou um capricho de ociosos.

Um sofista se aproximou de Tales de Mileto, e intentou confundi-lo com as perguntas mais difíceis. Porém, o sábio de Mileto esteve à altura da prova porque respondeu a todos as perguntas sem a menor vacilação e assim mesmo com a maior exatidão:

1 – Qual é a coisa mais antiga?
- DEUS, porque sempre tem existido.

2 – Qual é a coisa mais formosa?
- O UNIVERSO, porque é obra de Deus

3 – Qual é a maior de todas as coisas?
- O ESPAÇO, porque contém todo o Criador.

4 – Qual é a coisa mais constante?
- A ESPERANÇA, porque permanece no homem depois que haja perdido todo o mais.

5 – Qual é a melhor de todas as coisas?
- A VIRTUDE, porque sem ela não existe nada de bom.

6 – Qual é a mais rápida de todas as coisas?
- O PENSAMENTO, porque em menos de um minuto pode voar até o final do Universo.

7 – Qual é a mais forte de todas as coisas?
- A NECESSIDADE, porque faz com que o homem enfrente todos os perigos da vida.

8 – Qual é a mais fácil de todas as coisas?
- Dar conselhos

Porém, quando chegou à nona pergunta, nosso Sábio disse um paradoxo. Deu uma resposta que, estou seguro, não foi
jamais entendida pelo mundano interlocutor, e que, para a maioria das pessoas, terá um sentido superficial.

A pergunta foi esta:
9 – Qual é a mais difícil de todas as coisas?
E o Sábio de Mileto replicou:
- Conhecer a si mesmo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Origem do Lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade


Por: Paulo Mathias
Retirado do Jornal Maçonaria Brasil - Março / 2006

As palavras Liberdade, Igualdade, Fraternidade estão associadas à Revolução francesa e à Maçonaria. Mas o lema não possui origem maçônica, como afirmam alguns autores. A Revolução Francesa, inicialmente, usou o lema Liberdade, Igualdade, ou a Morte (Liberté, Egalité, ou la Mort). Só a partir da segunda República, em 1848, é que ele se transformou em Liberdade, Igualdade, Fraternidade (Liberté, Egalité, Fraternité). Maçons em todo o mundo, que trabalhavam sob as influências francesas, acabaram vulgarizando a trilogia a ponto de ser considerada como lema exclusivamente maçônico.

A idéia de Liberdade, Igualdade, Fraternidade é bem mais antiga: há vestígios dela na criação do Comunismo Cristão, primeira seita comunista, em 1694, cujos membros acreditavam que o Messias aguardado se apresenta como “o Distribuidor de Justiça” (Igualdade), como “o Grande Irmão” (Fraternidade) e “o Libertador” (Liberdade).

A trilogia pode ser analisada através do ponto de vista exclusivamente iniciático ou sob o prisma político-social. E sob este prisma a Igualdade remete a um ideal de organização social, pelo qual lutou a humanidade, ao longo de sua evolução. Luta que
ainda perdura nos dias atuais, onde nações estão divididas em sistemas políticos, comunidades em classes sociais e indivíduos em posições econômicas, prejudicam qualquer esforço em benefício da igualdade irrestrita.

A Fraternidade remete à conduta que norteia a vida de um indivíduo. Almejada como objetivo de religiões, instituições sociais, partidos políticos, etc... estabelecendo o altruísmo contra o egoísmo, a benevolência contra a malevolência, a tolerância conta a intolerância, o amor contra o ódio. (JoséCastellani)

A Liberdade nasce com o indivíduo, atinge o consciente coletivo dos povos e produz fatos extraordinários. O sentimento de liberdade é o bem mais caro ao coração de um homem; e não há nada que o deprima tanto quanto a opressão da escravidão, o encarceramento da consciência e a privação da liberdade. (José Castellani)

Sob o prisma iniciático, a Liberdade nos remete à consciência da identidade básica de todos os seres e de todas as manifestações do espírito humano, acima de todas as distinções externas de posição social e grau de conhecimento, e de desenvolvimento intelectual. (José Castellani)

A Fraternidade é considerada o complemento da liberdade individual e da igualdade espiritual; é a tolerância, em relação à liberdade, e a compreensão, em relação à igualdade.

Por fim a Liberdade é definida como uma aquisição individual interior, independente da liberdade externa. Pode ser outorgada pela Lei ou pelas injunções da vida. É, em resumo, a liberdade que adquire buscando a Verdade, trilhando o caminho da virtude e do domínio dos vícios.

domingo, 21 de agosto de 2011

O Magista e a Sociedade


Por Papus, Tratado Elementar de Magia Prática, Cap. 13.

(...)
Até aqui temos visto as práticas mais simples que permitem ao magista a educação progressiva de sua vontade e a ação cada vez mais consciente sobre os seres psíquicos. Suponhamos agora que o experimentador chegou a constituir em redor de si uma atmosfera de simpatia tanto no mundo invisível como no mundo visível; vamos pedir-lhe que utilize seu trabalho e suas ciência em benefício dos profanos e dos ignorantes, daqueles que, longe de o compreenderem, responderão a cada benefício, com ataques envenenados, a cada revelação, com sarcasmos.

É aí que está o resultado inegável deste apostolado e aqueles que por ele passaram, sabem quanta energia e firmeza de ânimo é preciso para ser bom e sorrir para todos esses curiosos e esses impotentes de hoje, que serão os adversários e os inimigos de manhã, salvo raras e nobres exceções. Só mui dificilmente se encontrará, uma vez ou outra, um coração generoso que esteja disposto a todos os sacrifícios intelectuais e a todos os devotamentos para ajudar a suportar as provas comuns, aí está a história de todos os adeptos do ocultismo, desde Pitágoras até Raimundo Lullo, e desde Paracelso até Martinez de Pasqualis e Luiz Claudio de Saint-Martin.

Estes obstáculos, porém, não devem nunca de deter o investigador e é agora que precisamos descrever qual deve ser a conduta do magista na sociedade, qual deve ser sua influência intelectual nos meios hostis e como Cavaleiro da Ideia, ele se deve lançar no combate, sem contar nunca com o número de seus aliados nem com o de seus adversários.

Quão útil para o discípulo independente não ultrapassar nunca os estudos de imantação e concentração! Rodeado de alguns amigos sinceros, guiados pelos conselhos dos mais experientes em estudos, nos grupos onde o trabalho silencioso é a primeira regra a ser observada, ele deve preparar-se para as lutas e deveres que lhe reserva o apostolado entre os profanos. Superior às tentações do triunfo depois da batalha, deve permanecer como o receptáculo vivo da Alta Ciência, desconhecido dos inimigos como dos curiosos. É graças a tais homens que jamais a tradição hermética se perdeu e o sábio alquimista do século XV, prosseguindo silenciosamente seus trabalhos no fundo de uma adega, enquanto a ignorância clerical triunfava à luz do dia, legou à posteridade tesouros mais reais que a pedra filosofal e o elixir da longa vida.

Não deveis esquecer nunca, vós que quereis ir por diante e modelar a humanidade como aprendestes a modelar vossa própria substância, não esquecei nunca que, se tiverdes um instante que seja de desfalecimento, a matéria em fusão se revoltará contra vossa ação, e sereis a primeira vítima das forças que não soubestes dominar.
(...)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

DISOLUCION DE UNA LARVA POR MEDIO DE UNA PUNTA DE ACEBO. REPERCUSION SOBRE EL CUERPO PISICO DE UNA BRUJA


Já faz um bom tempo que não posto no blog, infelizmente por falta do mesmo. Então vou recomeçar, com esse texto de uma história tida como verídica encontrada no Tratado Elementar de Magia Prática de Papus. O texto se encontra em espanhol, mas a leitura é fácil, nada que o google tradutor não resolva. É o mesmo texto na integra que comento no curso de Magia. Vale a pena a leitura.

















"Los hechos que siguen me han parecido dignos de ser anotados, puesto que me permiten hallar una explicación al fenómeno del fantasma luminoso que se menciona en el número 5 del mes de febrero.
Hago constar por adelantado que en lo tocante a las conclusiones, me limitaré a formular una teoría.
Como precedentemente he dicho, el caserío de P. se componía de veintiséis personas repartidas en seis casas. No hablé antes de una séptima vivienda, situada en medio del lugar, que juntamente con el cortijo había pasado a ser propiedad de mi familia. Esta vivienda estaba vacía. Junto a ella veíase otra, una especie de cabaña que ocupaba una mujer sola, B... de nombre, y tenida en todo el contorno por bruja. Los campesinos le atribuían todo linaje de poderes ocultos, desde los propios para hacer que en el acto desapareciesen las callosidades, hasta los requeridos por la ejecución de los más negros maleficios, tales como el hechizamiento, causar enfermedades al ganado, conseguir que abortasen las vacas, etc., etc.
Cierto día tuve ocasión de ver a esta persona por primera vez, algunos meses antes que mi familia se estableciera en P. durante el período de las vacaciones.
La tía B..., acudía todos los sábados a nuestro cortijo para comprarnos huevos, manteca y quesos, que luego revendía en las ferias de los alrededores. Era una mujer de unos cuarenta a cuarenta y cinco años, pequeña, regordeta y de cara desagradable, aunque no se la podía llamar fea. Su ancha boca, de labios bastante abultados, resultaba algo torcida e inclinada al lado derecho la nariz era corta y gruesa, con unas ventanas grandísimas, la frente muy baja y los cabellos eran de un tono castaño oscuro que las canas comenzaban a blanquear. Los ojos ofrecían una particularidad notable, eran de color distinto, pequeños y de un mirar escrutador y penetrante. La pupila del izquierdo, .en su parte de arriba, resultaba de azul claro y verdoso y en la de abajo, pardo oscuro.
Yo conocía ya la fama que en la localidad tenía esta mujer, y sin que concediera ninguna importancia a las historias que a propósito de ella me habían contado, no dejaba de producirme cierta curiosidad su persona.
Antes de continuar he de referir un detalle cuya importancia se verá más adelante.
Cuando mí familia adquirió la propiedad de la granja, ésta pertenecía a un gran señor austríaco y estaba administrada por un lugareño desprovisto en absoluto de instrucción, y de quien públicamente contaban que era dominado por la tía B. . . El laboreo de la granja no producía el menor rendimiento a su propietario, y éste fué el motivo que decidió al dueño á ponerla en venta. Verificada la compra, vinieron incluidos en ella todos los animales, incluso un perro que también había en la hacienda. El can era uno de los llamados de pastor, de piel rojiza, de mucha talla, excelente guardián por la noche, y por el día absolutamente inofensivo. De todas suertes no resultaba muy amable con las personas que no fuesen las de la familia, y a mí, especialmente, el pobre animal me quería como los perros saben querer.
Tenía unos ojos muy particulares; el derecho gris y el izquierdo azul claro y verdoso en la mitad superior y pardo oscuro en la otra. En una palabra, los ojos del perro eran perfectamente iguales a los de la tía B. .. Además, este bicho que no acostumbraba mostrar mal genio, acometía rabiosamente a la supuesta bruja en cuanto la veía llegar, por cuyo motivo, estando en la granja la tía B..., había que poner al perro la cadena. Era de verle entonces ladrando y aullando de un modo horrible hasta que la mujer salía de la casa. Ultimamente había acabado por conocer los días en que B... venía a hacer sus compras, y desde las primeras horas de la mañana mostrábase de un humor endiablado y huía para que no se le encadenase.
Las causas de tal odio eran desconocidas. B. . ., a quien había preguntado si en alguna ocasión había hecho algo al perro, dijo que no, y que observaba en aquel bicho tan malas intenciones, que había de llegar a morder a alguno de la casa, si no nos deshacíamos de él antes. Es de notar que fuera de la hacienda el perro demostraba mucho miedo a la mujer y escapaba de ella en cuanto la veía venir. En la granja todos se acostumbraron a estas manifestaciones de canina animosidad y nadie les daba importancia, limitándose las precauciones adoptadas a atar el perro los sábados por la mañana.
En el mes de agosto de 1876, algunos días después de la aparición de l a l i nt er na, y
precisamente la víspera de mi marcha para incorporar-me al regimiento, fuí a dar una vuelta en compañía del ya citado señor N. El perro vino con nosotros como de costumbre. Nos dirigimos a la casa deshabitada, donde al paso quería entrar para ver algunos trastos viejos que estaban en el granero. Ya he dicho que la tía B... vivía al lado, y debió vernos entrar.
Cuando a cosa de medía hora después salimos, B... estaba junto a su puerta apoyada en la pared. El perro iba detrás de nosotros. Apenas desembocó del corredor, lanzó un chillido lo mismo que si le hubieran dado un gran palo y huyó a todo escape en dirección de la granja. N. y yo quedamos un rato suspensos viendo correr al animal, cuando la mujer que estaba a la puerta de su casa, comenzó a reír.
Me volví hacia ella sintiéndome muy incomodado sin saber por qué, y no sabiendo qué decirle, di media vuelta, con la intención de ir a buscar mi perro; pero éste se había detenido a un centenar de metros de distancia, y desde donde no nos perdía de vista. Nosotros permanecimos quietos, sin dejar yo de silbar para que se acercara. El perro obedeció al fin a mi reiterado llamamiento, comenzando a acercarse lentamente con las orejas gachas y el rabo entre piernas, deteniéndose a cada paso para tumbarse. A medida que se acercaba y oía mi voz, sentíase más animoso. Cuando llegó a una docena de metros de distancia, se agachó en el suelo y comenzó a gruñir sordamente. Le llamé otra vez; no se movió; pero parecía que su cólera iba en aumento.
Experimenté la sensación de que algo anormal iba a suceder (N. me confesó luego que se había sentido indispuesto casi.) Instintivamente volví los ojos a tía B.. ., y quedé sorprendido por la expresión dura y de odio que aparecía en su cara, expresión que la había transformado. Nunca olvidaré aquella fisonomía de extraña perversidad, ni la intensa y rabiosa ira que se apoderó de mí en aquellos instantes.
Llamé al perro con breve y seco tono; tenía la completa convicción de que había de obedecerme. El animal se enderezó con las orejas de punta y los ojos chispeantes, después, lanzando un aullido terrible, se precipitió a saltos contra la puerta de la cabaña: La tía B..., en el propio momento, había retrocedido al interior de la vivienda, cerrando la puerta con estrépito y precipitadamente.
El perro puesto de patas aullaba y arañaba furiosamente las maderas como si pretendiera forzar el paso. No poco me costó quitarlo de allí, y preciso fué que mi amigo me ayudara a cogerlo del collar para llevarlo a viva fuerza hasta la granja.
Tanto a N. como a mí, no nos quedó ganar de continuar el paseo, y pasamos el rato discutiendo detenidamente el raro proceder de la tía B... y de mi perro. No cesábamos de hacer conjeturas. Al día siguiente marché al punto donde mi regimiento estaba de guarnición.
En fin de diciembre, obtuve otra licencia para los días de la entrada de año, y volví a junto a mi familia a P. Como quiera que en la granja todos los cuartos estaban ocupados por los parientes que habían venido a pasar aquellos días con nosotros, dispuse que se me pusiera la cama en una habitación de la casa vacía que teníamos en el caserío.
A las once de la noche fuí allí acompañado de la muchacha que me trajo el agua, las toallas, etc. y del perro que venía detrás de nosotros. Una vez que la criada puso todo en orden y me hizo la cama, se marchó llevándose al perro.
El cuarto que ocupaba era de los del primer piso. Entrábase en él por un corredor al que también daba la puerta de una sala. Esta habitación estaba vacía, completamente vacía de muebles; otra puerta permitía pasar directamente de este cuarto a mi dormitorio y la cama estaba a un lado junto a la puerta de comunicación de ambas estancias, de modo que al abrirse hacia la alcoba, venía a tropezar contra los pies de mi lecho.
En cuanto se marchó la muchacha, eché la llave de la puerta principal y subí al dormitorio, cerrando al paso la puerta de la sala, sólo con el pestillo. Dejé abierta la de comunicación con el dormitorio. Me quité el uniforme, puse el sable de caballería arrimado a la silla que me servía de mesa de noche, y metiéndome entre sábanas apagué la luz.
Apenas quedé a oscuras, comencé a oír que se arañaba rudamente en las tablas de la puerta de la primera habitación. El ruido era idéntico al que hace un perro cuando araña una puerta cerrada porque quiera entrar o salir, sólo que resultaba más fuerte, y como si el animal intentara franquear a la fuerza la entrada. Pasado el primer instante de sor-presa, creí que mi perro habría quedado dentro, sin embargo, el ruido no perecía causado desde la parte de afuera, en la del corredor, sino en la de dentro, es decir en la sala. Llamé va;•ias veces al perro por su nombre, "Sokol"; por toda respuesta los arañazos se oyeron más fuertes.
Según he dicho, la puerta de comunicación estaba abierta y apoyándose como se apoyaba contra los pies del lecho, podía empujarla con uno mío. Dile una patada violenta con el derecho y se cerró dando un gran golpe. En ese momento los ruidos se trasladaron a las tablas de esta puerta, produciéndose por la parte de la otra habitación.
Debo confesar que al ver que el perro no acudía a mi llamamiento y que los ruidos aumentaban, sentí miedo al pronto y este motiva fué el que me impulsó a cerrar bruscamente la puerta de mi cuarto; pero tan pronto como noté la producción de los ruidos en la misma puerta que había cerrado, tan cerca de mí, quedé súbitamente libre de todo sentimiento de terror. Encendí la vela; pero antes de ejecutarlo cesó el estrépito.
Me eché fuera de la cama; me puse el pantalón y fuí a inspeccionar la otra habitación, continuando siempre con la idea de que por allí andaba el perro aunque no se me ocultaba la material imposibilidad de su estancia. En la sala no vi nada. Salí al pasillo, bajé la escalera, registré eI vestíbulo, llamando al perro, y nada tampoco hallé por ninguna parte. No me quedaba más recurso que volver al dormitorio, y puesto que no podía dar con la solución del enigma, así lo hice, me metí en la cama y apagué la luz.
Volvimos a las andadas en cuanto quedé a oscuras; pero con mayor intensidad de ruidos que antes, en la parte de afuera de la puerta de comunicación, que ahora tuve el cuidado de deiir bien cerrada.
Entonces experimenté tal impresión de molestia y de rabia, me sentí tan enervado, que sin cuidarme de encender la luz, salté de la cama, cogí el sable, lo desenvainé, y corriendo fuí a la inmensa estancia. Al abrir la puerta noté que algo se oponía a ello y en la oscuridad me pareció distinguir un resplandor. una sombra luminosa, permítaseme la frase, que vagamente se destacaba sobre la otra entrada de aquella habitación.
Sin pararme a reflexionar, di un salto y descargué un formidable tajo sobre la puerta. Un haz de chispas salió de sus tableros, como si. la hija hubiera herido algún clavo que allí encontrase. La punta del arma traspasó la madera y me costó trabajo arrancarla. Volví en seguida a la alcoba para encender la luz y, sin soltar el sable, fuí a examinar la puerta. La tabla había quedado hendida en toda su extensión. Busqué inútilmente el clavo en que tropezara el corte: al observar el filo de la hoja vi que no mostraba ninguna huella de haber dado en hierro.
Descendí de nuevo al vestíbulo y busqué por todas partes, sin encontrar en ninguna, cosa que aclarase el misterio. Regresé a mi alcoba; eran las doce menos cuerto de la noche.
Dime a pensar en lo que acababa de ocurrir. Ninguna explicación pude hallar, pero experimenté un sentimiento de efectiva calma, y recuerdo perfectamente que acaricié, casi sin fijarme en lo que hacía, la hoja de mi sable al volver a la cama, dentro de la cual lo puse al lado mío. Pude al fin conciliar el sueño y me desperté a las ocho de la mañana, sobre poco más o menos.
A la luz del sol, contemplando aquella puerta hendida, los acontecimientos pasados aun me parecieron más sorprendentes.
Me vestí a escape y me dirigí a la granja, donde ya la gente se preparaba para tomar el desayuno; ya se me esperaba. Conté lo que me había ocurrido, relato que pareció de todo punto inverosímil a las personas de afuera que estaban allí de visita. En cuanto a mis parientes y al amigo N., el.súceso les impresioné muy de veras.
Terminado a cosa de las diez el desayuno, todos quisieron ver la puerta rota, y en efecto, familia, visitas y amigos nos encaminamos a la casa del lugar.
A mitad del camino una mujer de P. salió a nuestro-encuentro, y nos dijo que precisamente venía a la granja a pedir a N. que fuese a ver a la
'
tía B. . . que estaba mal. Otra mujer había entrado en la casa de la bruja por algún recado momentos antes, y la encontró ensangrentada y tendida sobre el lecho, como muerta. La novedad nos hizo apresurar el paso; yo respondo de que me habían emocionado singularmente las noticias dadas por aquella mujer.
Llegados a la vivienda de la tía B..., un cuadro horrible se ofreció a nuestros ojos.
:Poseída la bruja por el delirio, estaba en la cama bañada en su propia sangre, los
ojos cerrados y pegados por los coagulos sanguíneos y mostrando en la frente una horrible y mortal herida de la que aún se escapaba a hilos una lenta hemorragia. La lesión hecha por un instrumento cortante, -comenzaba a dos centímetros por encima de la línea del pelo y se prolongaba en línea recta hasta la raíz de la. nariz, midiendo unos siete centímetros y medio de longitud. El cráneo estaba completa-mente hendido y- la masa encefálica salía a través de la hendidura.
tv. y yo, fuimos a escape a nuestra casa. N. a buscar lo necesario para practicar la cura y yo a enviar a escape el coche que fuera por el médico de un pueblo vecino.
En seguida volví junto a la tía B..., a quien había vendado provisionalmente mi amigo N. Llenaban el interior de la vivienda las gentes del lugar, entre las que también estaba la dueña de la posada. Nadie podía suponer lo que le había ocurrido a la tía B. . ., y como quiera que nunca inspiró a sus vecinos otra cosa que el miedo que le tenían, sólo experimentaban una gran curiosidad, excepto la posadera, que más que curiosa mostrábase visiblemente satisfecha y no se ocultaba para decir: ¡Ya recibió la tía B... su merecido!
Debo manifestar que desde el instante en que entré en la choza y la vi tendida en la cama con la cabeza abierta, experimenté la sensación de que algo oscuro se aclaraba súbitamente en mi cerebro. En el acto me di cuenta que la tía B... era la bruja que había sido herida por el filo de mi sable, cuando la noche anterior descargué la cuchillada que había hendido la puerta de la sala desierta.
Habiendo terminado la operación de limpiar y vendar a la mujer salimos de la casa N. y yo. Subimos al piso de la inmediata y mi amigo contempló la puerta rota sin decir ni una palabra; visiblemente demos-trábase su emoción. Yo no lo estaba menos. Hablé a N. y le comuniqué mis reflexiones.
Conviene advertir que en esta época yo no estaba al corriente de lo que fueran las ciencias y fuerzas ocultas. Las relaciones que yo establecía entre lo ocurrido por la noche y lo que vi por la mañana eran puramente instintivas.
N. sólo respondió a mis argumentos, (si es que lo que le dije merece tal nombre): No comprendo nada, pero aquí ocurren cosas horribles. Lo cierto es que maldito si yo sabía más del asunto que mi amigo. De común acuerdo adoptamos la resolución de no hablar con nadie acerca de los fenómenos ocurridos en la noche, pasara lo que pasara a la tía B... Abandonamos con este propósito la casa y nos dirigimos a la de la bruja.
La mujer estaba sumida en un estado comatoso. Del delirio había pasado a la fase de abatimiento profundo que terminó con su vida. Recomendamos a las personas que la rodeaban que renovasen con frecuencia las compresas de agua fría y seguidamente nos reintegramos a la granja.
Mi familia y amigos habían olvidado de todo el objeto de nuestra salida, es decir, el de ver la puerta rota, y lo mismo N. que yo nos guardamos de recordar el asunto a nadie. A todos preocupaba lo ocurrido a la tía B. . . y esto constituía el tema de las conversaciones. Uno de los presentes recordó que nos habíamos olvidado de ir a ver la puerta; pero respondí que la cosa no merecía la pena molestarse nuevamente y que ya comenzaba a creer que me había dejado llevar un poco por las impresiones hijas de un mal sueño.
A la una de la tarde vino el médico. N. y yo le acompañamos a la casa de la tía B. . . e inspeccionada su herida, dijo que era tan' gravé y de resultado tan fatal, que la lesionada sólo viviría algunas horas. A las preguntas respecto de los orígenes del hecho nos cuidamos muy bien, como se comprenderá, de dar ninguna explicación.
Previendo el cercano desenlace anunciado, el médico se quedó en P. con nosotros. Redactado el parte de lo sucedido, un mandadero salió para entregarlo en el próximo puesto de gendarmería, para que la autoridad se encargara de cumplir con lo dispuesto por la ley. A las siete de la tarde llegó un cabo de gendarmería, que comenzó las indagatorias en el domicilio de la interfecta. Nos hallábamos presentes. el médico, mi amigo N., la mujer que primeramente vió a la tía B. .., tal como estaba, varias otras personas y yo.
A las ocho menos cuarto continuaba el gendarme escribiendo, cuando de pronto se incorporó la tía B. . ., apoyándose sobre los codos; abrió des-mesuradamente los ojos, permaneció algunos instantes en esa postura, y con esa expresión en la mirada, después cayó hacia atrás. Había muerto. El médico le cerró los párpados.
Como quiera que nadie podía dar noticias de lo ocurrido, el cabo de gendarmería terminó pronto su indagatoria y marchó con ella. Al próximo día (el primero de enero) llegó bien de mañana el juez con el objeto de cumplir los requisitos legales, certificó el médico, y por la tarde se dió tierra en el cementerio del poblado más próximo, al cuerpo de la tía B...
Las indagaciones judiciales, ordenadas por puro formulismo, como es de suponer, np dieron resultado, y fueron abandonadas a los pocos días, dando por averiguado, que la herida era debida a un accidente casual. (2)
Nada tengo ya que añadir a los hechos propiamente dichos, pero debo mencionar una coincidencia. Después de ocurrida la muerte de la tía B... cesó en P. y en los alrededores el fenómeno de la aparición de la linterna. Nadie volvió a verla desde entonces.
A partir de la fecha de estos acontecimientos, o sea hace diez y siete años, he tenido ocasión de ver un gran número de hechos de carácter sobrenatural o al menos inexplicables desde el punto de vista de nuestros conocimientos ordinarios, pero jamás he tenido ocasión de presenciar ninguno producido espontáneamente, que pueda compararse con el de la linterna. He observado que siempre los fenómenos más milagrosos re conocen por primera causa las fuerzas humanas (lo que no quiere decir que yo niegue a priori la existencia de otra clase de energías) y me parece que ,
existen fundamentos en el caso referido para llegfr a las siguientes conclusiones:
1 Que la tía B... era un poderoso médium de efectos físicos que actuaba con pleno discernimiento de lo que hacía.
2 Que, en consecuencia, B... estaba naturalmente provista de facultades extraordinarias para verificar la emisión de un cuerpo astral, sino es que hubiere alcanzado la iniciación en ciertos modos de efectuar el dicho fenômeno.
3 Que los ruidos nocturnos de mi cuarto fueron obra de la tír B ... , es decir, de su cuerpo astral, y realizados con el propósito de asustarme en venganza de haber hecho que mi perro se rebelara contra el poder oculto que sobre el bicho, B... ejercía fuera de granja. Esto aclara el porqué la bruja imitara los arañazos que el perro dió en la puerta cuando hubo de acometerla furioso en las circunstancias que dejo ex-puestas.
4 Que al descargar yo el sablazo contra la puerta y contra la som bra luminosa que entonces vi, el acero hirió el astral de la bruja y que la ruptura de la cohesión molecular del cuerpo fluídico, originada por la punta del sable al atravesarle con rapidez vivísima, había determinado la herida de B...
5 Y, por último, que la aparición de la linterna, no era más que una emanación astral de la tía B... que se gozaba en difundir el terror entre las gentes del lugar.
Reflexionando a propósito de esta manifestación se me ocurre que si criando apareció la linterna, le hubiese disparado un tiro haciendo blanco en ella, como tuve deseos de verificarlo, probablemente B. . hubiera sido muerta por la bala en el mismo instante.
"
GUSTAVO BOJANOO
La varita y la espada son, tanto la una como la otra, indispensables instrumentos que necesariamente debe poseer el maoista; el resto, es decir la lámpara, la copa, etc., constituyen objetos de lujo sin positiva aplicación salvo excepcionales ocasiones. En la práctica corriente, la varita y la espada pueden reunirse en un solo instrumento mágico y he aquí cómo:
Se buscará un bastón de estoque terminado en la parte superior por una bola de hierro magnético muy bien imantada y sobré la que se hará grabar en oro un signo mágico, y los caracteres oportunos. La parte inferior del bastón terminará en una contera de plomo metida en un casquillo de cobre plateado. Un anillo hecho con una aleación de mercurio y estaño, estará engastado en la parte de arriba del bastón, que conviene sea un junco de suficiente grosor. De esta manera, la espada va metida en un cetro mágico que no parece lo que es a los que no estuviesen enterados de estas cosas.
La hoja de acero medirá las dimensiones de cualquier espada corta: ha de ser triangular y tendrá trazados los signos correspondientes. La empuña-dura tiene que ser lo bastante larga para que la mano nunca toque, al cogerla, el acero de la hoja, quedando perfectamente aislada por el puño de barnizada madera. Nosotros poseemos un arma de esta especie que nos ha prestado grandes servicios en nuestros trabajos experimentales, porque su estructura permite poder llevarla consigo en todas ocasiones y estudiar sus efectos en cualquier clase de manifestaciones psíquicas.
Tales son los preciosos auxiliares de la eficacia del gesto en las operaciones de la Magia. (3)

___________________

2
Los casos de embrujamiento que han sido debidamente comprobados, no faltan, si bien no abundan ni pueden abundar, como pretenden ciertos supuestos confeccionarios de hechizos, que a la sombra de otras distintas maneras de vivir, explotan la credulidad de ciertas gentes.
El autor francés, Port e du Trait des Ages, cuyos estudios mágicos hemos traducido bajo el título de El Embrujamiento Experimental, ("La Irradiación", edic., Madrid, 1908), refiere lo que le aconteció con un
brujo en los siguientes términos, y es de advertir que en este ejemplo existe una perfecta semejanza de resultados con el anterior, lo que evidencia el formidable poder de las puntas contra los ataques de los seres del astral:
,
"Por motivos fútiles, un brujo me había declarado un odio inextinguible, y conociendo como conocía de antemano todos cuantos fenémenos le era dable producir para atemorizarme, relame de la mala voluntad que yo le inspiraba; cierta noche del mes de febrero regresaba a mi casa siguiendo a paso acelerado el camino cubierto de nieve, cuando a unos cien metros de mi puerta ví una forma tenebrosa que dió vueltas a mi alrededor, desapareciendo en seguida. Inmediatamente me acordé del brujo, y por si acaso se decidía a repetir sus manifestacicnes, armé mi mano de un largo puñal de hoja delgada y punta finísima. Pasaron cinco minutos sin que nada de carácter anormal se opusiera a mi marcha; pero de pronto el mismo fenómeno surgió de nuevo; era una forma, un fantasma, que remedaba la de un perro enorme y seguía mis pasos, unas veces saltando de la manera más extraordinaria y otras dando rápidas vueltas en torno mío. Yo sólo esperaba el momento en que estuviera a mi alcance y no tuve que aguardar mucho tiempo. Llegado ese instante, con la rapidez del relámpago le dí una certera puñalada al fantástico animal; sentí en el brazo una sacudida y todo desapareció de mi vista como por arte de encantamiento. Tranquilo ya, entré en mi casa.
"Al día siguiente, fuí a la del brujo. Vivía en una choza, donde le hallé tendido en la cama, con los ojos abiertos enormerhente y mostrando la horrible boca de una herida que le taladraba el pecho. Las ropas y el suelo estaban inundados de sangre.
"En la noche de aquel día, mi mágico enemigo expiró".
Permítasenos que ccnsignemos aquí un hecho que nos ocurrió hace pocos años en enero de 1903.
Un amigo me dió la noticia de que en cierta calle de los barrios de Chamberí, existía una bruja en quien la gente tenía gran confianza. Juntos fuimos a verla, y ya fuese por razones de espontánea antipatía o porque la molestara alguna de mis palabras, a las primeras que cruzamos, empezó a responder acremente y ter-minó por amenazarnos con que bien pronto tendríamos alguna prueba de lo que sabía realizar.
No hicimos mucho caso de sus amenazas; pero al regresar mi amigo y yo comentando lo ocurrido, recuerdo que le dije que no podía echarse en saco roto las malas intenciones de ciertas personas, brujas o no, porque la eficacia del odio dependía a veces más de las facultades exteriorizadoras del individuo que de su pericia en. semejantes procederes.
A los dos o tres días de esto, estando en mi gabinete de trabajo a altas horas de la noche, dióse en la puerta que estaba medio abierta, tan enorme y efectivo golpazo, que vino a pegar contra sus quicios cerrándose con violencia inaudita. Suspenso quedé un instante no sabiendo a qué atribuir el fenómeno, pues los balcones estaban cerrados, así los cristales como las maderas, y en consecuencia no podía existir corriente de aire: en la casa todo el mundo estaba en cama, excepto yo, que me había quedado trabajando para concluir con la mayor urgencia el último capítulo de una de mis abras. Dejé la pluma, salí al pasillo, busqué por todas partes y nada hallé que pudiera darme una natural solución al enigma; pero al volver al gabinete pasando por el pasillo que en su mitad hacía recodo, un extraño soplido me apagó la luz, al propio tiempo que sentí unos pases delante de mí y otro porrazo enorme dentro de la habitación.
En el acto recordé la amenaza de la bruja y a escape quise entrar en el gabinete. La puerta estaba cerrada; hice fuerza para abrirla pronto, y resistióse el pestillo a girar como si por dentro alguien lo impidiera. Apreté con toda mi alma y de pronto cedió franqueándome el paso; encendí la luz v vi que me habían vertido el tintero sobre las cuartillas, que habían tirado los libres desde la mesa al suelo y que el sillón estaba volcado como si hubiera recibido un enorme puntapié. Pú seme a arreglar aquel desorden poseído del coraje mayor que he experimentado en la vida, y al levantar la vista de los papeles observé que se movía el cortinaje que cubría a medias la entrada de mi dormitorio y que en el fondo obscuro de él, en la parte del rincón que quedaba visible, algo se destacaba en forma indecisa y vaporosa, semejante en cierto modo a la silueta de una persona envuelta en amplio velo.
Sin reflexionarlo apenas, cogí un pesado pisa-papel de bronce que al alcance de mi mano, sobre la mesa había, y lo tiré contra la indecisa aparición con tal energía, que dejó en el escayolado de la pared profunda huella. En este preciso instante el reloj de la cercana iglesia del Buen Suceso dió las cuatro de la madrugada. '
Nervioso y mal impresionado pasé a pie el resto de la noche sin que nada más me ocurriera. Por la mañana temprano vino el amigo y le referí el suceso. No obstante mis explicaciones, dijo que creía más bien que todo fuera producto de una alucinación y para llegar al convencimiento me propuso que fuéramos a ver a la supuesta bruja. En el acto nos pusimos en marcha, y cuál no sería la estupefacción de mi acompañante al saber que la persona que buscábamos no podía recibirnos, porque aquella noche, según nos dijeron, se había dado un golpe tremendo en un hombro que la tenía en cama, haciéndole pasar muchos ,dolores. Insistimos en verla y al fin nos recibió. ¡Qué expresión la de sus verdes ojos al fijarse en nuestras personas! "¿A qué viene usted —me dijo— es que ignora usted lo ocurrido? ¿No sabe usted quién me ha hecho esto?" —y tirando de un improvisado vendaje nos mostró el amoratado hombro y una herida contusa que en él tenía.
"¿Se ha vuelto usted loca? —le respondí—; vengo a verla porque necesito preguntarle algo y no podía presumir que usted estuviese lesionada, ni tengo nada que ver con eso". "Bueno, como usted quiera —contestó— pero lo que sí puedo decirle es que no deseo volverle a ver y q ue . . . ¡tengamos la fiesta en paz! Para prueba 'basta lo ocurrido. Espero que no diga usted nada a nadie". Algunas veces nos hemos encontrado después. Nunca hemos vuelto a hablar del asunto; y en toda ocasión ha aparentado que no me conocía.
No terminaremos esta nota sin recordar un hecho que resulta tanto más notable, cuanto que cuenta con el apoyo de unas actuaciones judiciales y lo declarado por numerosas personas de distinta clase y condición. Nos referimos al caso ocurrido en Cydeville (Francia) en 1850, del que el autor se ocupa en la tercera parte.
Un pastor llamado Thorel quiso vengarse del cura de Cydeville, para lo cual se puso de acuerdo con un muchacho criado en el presbiterio a quien encontró en un mercado. Poco después de haberse marchado el chicuelo, estalla sobre el presbiterio una tormenta espantosa, y apenas disipada ésta, empiezan a oirse en todos los ámbitos de la casa incesantes golpes parecidos a martillazos, los cuales adquieren poco a poco tal intensidad que se pueden oír a un kilómetro de distancia. Pero no es ésto todo; a este fenómeno, ya de sí molesto, se agregan otros mil que lo son mucho más. Mientras aquellos ruidos misteriosos continúan su incesante concierto, o reproducen cadenciosamente el ritmo exacto de todas las tocatas que se les pide, se rompen los cristales cayendo en todas direcciones; los objetos se agitan, túmbanse las mesas, las sillas se agrupan, se pasean o se quedan suspendidas en el aire, mientras que los perros son lanzados hasta el techo con portentosa violencia. Los cuchillos, los cepillos, los breviarios salen volando por una ventana y entran por otra. Las palas, las tenazas, se escapan del hogar y andan solas por enmedio del salón. El guarda-fuego se separa de la chimenea, retrocede, y el fuego lo persigue. Los martillos vuelan por el aire con fuerza, y se posan con lentitud o ligereza en el suelo. Varios objetos de tocadot se arrojan bruscamente del mármol de la chimenea en que se encuentran y vuelven a colocarse por sí mismos en su sitio; enormes pupitres chocan entre Si y se rompen, etc., etc.
El cura de Cydeville y otros eclesiásticos llamados por él, deliberan cómo podrán librarse de los diablos que producían tan gran batahola en el presbiterio, viendo que no lo lograban fácilmente. El uno propone una cosa, el otro propone otra; un tercero asegura que ha leído en tratados especiales que los espíritus temen los hierros puntiagudos. Al oír esto, cesan las vacilaciones y cada cual se arma de uno de aquéllos. (Por donde quiera que se oye e, ruido, los hunden en el aire con toda la presteza posible.
Es muy difícil dar en el blanco, p,r virtud de la invisibilidad de la causa, y ya se disponen a renunciar a sus tentativas, cuando habiendo esgrimido uno de ellos un asador con más acierto, brota de repente una llama, la cual produce un humo tan denso que tienen que abrir inmediatamente los balcones para no morir asfixiados. Una vez disipado el humo, vuelven a pinchar el aire con los hierros, y entonces se percibe un gemido; siguen pinchando, y el gemido se repite, oyéndose esta palabra: PEnnóN!—Perdón, repiten aquellos señores; sí, te perdonamos.—¿Nos plonáis a todos?—¿Por ventura sois muchos?—Somos cinco, incluso el pastor.—Sí, os Terdonamos a todos.—Cuando al siguiente día se presentó Thorel en la casa parroquial, llevaba toda la cara llena de heridas, en las que reconoció los efectos de los puntiagudos hierros contra él empleados.

Si hubiésemos de recoger todos los casos semejantes al que reproduce el autor, podríámos escribir una obra tan extensa como el presente Tratado, pues aun dentro de su rareza, los hechos auténticos existen en número más que suficiente para de-mostrar la certidumbre de los fenómenos y el poder an'tiastral de las puntas.
Nosotros comenzamos empleando la varita mágica y la espada, ateniéndonos estrictamente a las prescripciones del Ritual, no omitiendo ninguno de sus prolijos detalles preparatorios, pero sucesivas experimentaciones nos hicieron ver que de muchos requisitos se puede prescindir sin ningún inconveniente. Cualquier trozo de madera, consagrándola o no, sirve' perfectamente para el caso y ninguna falta hace que en la varita se pongan los recomendados signos y misteriosas escrituras. Cosa análoga decimos respecto de la espada. La primera que el experimentador halle a mano, le sirve perfectamente sin que tenga que quedar otra precaución que la que esté perfec tamente limpia. Puede también aislarse del hierro (aunque no hemos visto que sea indispensable) envolviendo el puño en un trozo de tela fuerte de seda.
La espada que nosotros usamos desde hace tiempo, es un es
adín de hoja plana, de dos filos y _con empuñadura de cruz. Con ella, en más de una ocasión, hemos sostenido victoriosas luchas con los seres del astral, y aunque no está consagrada, ni tiene escrito cosa alguna, ni la adorna ningún talismánico signo, nos ha prestado magníficos servicios que seguramente no aventajará ninguna otra.
Papus dice que el cetro y la espada son los dos útiles verdaderamente indispensables. Nosotros nos permitiremos añadir que aun sobre aquél, pues sólo con ésta se llevan a cabo todas las operaciones evocatorias del modo más completo y satisfactorio.