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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Trecho do Estados da Experiência Mística por Ralph M. Lewis


Digitalizei aqui um trecho muito interessante de uma monografia de Ralph M. Lewis, que trata muito bem dos diversos tipos de pseudo iniciados, espiritualistas e cia que infelizmente compõem parte considerável dos mais variados círculos místicos e esotéricos. 


(....) Isto nos traz ao fato de que existem dois tipo de místicos. Na realidade, o primeiro tipo não deve ser considerado um místico verdadeiro, embora seja assim designado e, talvez ardentemente acredite ele próprio que é um místico. Seu tipo de experiência mística , muitas vezes não passa de uma condição patológica, uma certa morbidez da mente. Trata-se, realmente, de manifestação de uma dissociação psicológica e, a certo grau, de uma temporária desintegração de sua personalidade. Por exemplo, um indivíduo pode ter estudado misticismo religioso fervorosa e extremadamente, durante anos. Afinal, torna-se obcecado pela idéia de que está continuamente cônscio da presença de Deus e, permitindo-se essa obsessão, acaba perdendo os limites de seu ego imediato. Fica incapacitado de distinguir seu ego de sua obsessão. Sua personalidade, a parte verdadeira do seu Ser, torna-se profundamente submersa na idéia de Deus. É ele então incapaz de distinguir os pensamentos que são estritamente seus, oriundos de sua própria personalidade imediata, dos impulsos que concebe como proveniente de Deus.

Se conhecêssemos alguém que continuamente proclamasse estar possuído, em todos os momentos, da personalidade de Abraão Lincoln, ou de Napoleão, de modo que tudo que dissesse, ou fizesse, resultasse das influências dessa personalidade dominante em seu interior, chegaríamos finalmente à conclusão de que se trataria de uma pessoa anormal. Na verdade, ela seria insana. Analogamente, o indivíduo que está continuamente obcecado com a idéia de que está consciente da presença de Deus, e de que age impelido por Divina direção, em todas as coisas, constitui também um caso patológico e como tal deve ser considerado.

Esse pseudomístico, ou falso místico, embora agindo em boa fé, caracteriza-se por duas práticas comuns. O leitor já terá observado essas práticas com freqüência, de modo que elas lhe parecerão familiares, à medida que eu às enunciar. Em primeiro lugar, o falso místico manifesta um rigoroso desligamento dos laços mundanos, certa desassociação de todas as atividades, responsabilidades e concepções de uma pessoa normal que vive num mundo físico. Esse falso místico, injustificadamente manifesta certa indiferença para com os outros, como acreditando que está possuído de algo que torna fúteis todos os outros interesses e as demais preocupações de um ser humano normal.

O pseudomístico se distingue, freqüentemente, por seu menosprezo das obrigações sociais. Considera a ética uma trivialidade e as práticas que mantêm unida a sociedade como esforços estúpidos de homens insignificantes. Escarnece das necessidades materiais da vida, das coisas por que a maioria dos homens luta, num sentido conservador. Sugere que seu desdém pelos interesses mundanos, temporais, é uma indicação de sua superioridade espiritual. Zomba das lutas que os outros homens travam com os problemas da vida. Enquanto outros homens se esforçam para transformar o mundo num lugar melhor para se viver, nutrir ambições razoáveis e organizar suas atividades, o falso místico se recolhe a uma atmosfera de presunçosa santidade, criada por ele próprio, encarando desdenhosamente seus semelhantes.

A outra prática do falso místico é diretamente oposta ao que vimos de descrever. Em geral, trata-se de uma espécie de automortificação. Consiste de um desnecessário mau trato do próprio corpo,  dos próprios desejos. Esse pseudomístico recorre a austeridades. Por exemplo, nega-se prazeres, relaxação, jogos e distrações normais, e até mesmo os confortos comuns de um viver descente. Acredita que precisa fazer essas coisas, a exemplo asceta do Oriente, como medida disciplinar. Pensa que, suprimindo completamente interesses mortais e coisas mundanas, há de libertar o Eu espiritual.

O pseudomístico, freqüentemente, induz fisiologicamente um estado místico imaginário. Recorre a métodos estranhos e antinaturais, para provocar um fenômeno que interpreta como consciência mística. Suas experiências são fenômenos alucinatórios e, essas alucinações, são muitas vezes induzidas por extrema fadiga, (...), jejum extremo, (...), uso de drogas (...), e embriaguez alcoólica.
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