Prólogo
O prólogo traz um resumo da jornada que será narrada e
descreve o personagem Gilgamesh, exaltando seus atributos físicos e o seu
cárater corajoso. Também enaltece a construção das muralhas e do Templo de
Ishtar em Uruk, que teriam sido levadas a cabo por ele.
1. A chegada de Enkidu
As aventuras heróicas começam com uma descrição de
Gilgamesh: Nenhuma mulher era capaz de escapar da sua volúpia. E todos os
homens sofriam com o seu furor. O povo se lamentava aos deuses, pedindo ajuda,
e eles ouviram as suas súplicas. Aruru, a deusa da criação, criou Enkidu. Um
homem igual a Gilgamesh, para que esse tivesse um rival à altura.
Enkidu surgiu na selva na forma de um homem não civilizado,
se comportando como um animal, e sem conhecer os modos humanos. Ele vivia com
as feras e as ajudava a fugir dos caçadores.
Um dia um caçador o enxergou. Angustiado ele voltou para
casa, e contou a sua terrível visão a seu pai, em busca de conselhos.
"Busque a ajuda de Gilgamesh, solicite uma prostituta do templo para
seduzi-lo e isso fará com que os animais o repudiem", foi a resposta do
velho. E ele assim o fez.
Trouxe a prostituta para a selva e aguardou esperando que
Enkidu aparecesse novamente. Quando Enkidu surgiu e viu a prostituta que
o esperava, foi seduzido e fez sexo com ela. E ela lhe ensinou as artes das
mulheres por 7 dias e 7 noites. Como previsto, os animais o rejeitaram depois
disso, pois ele havia perdido suas forças e o sexo havia tirado sua inocência e
o tornado civilizado, lhe dando conhecimentos e pensamentos de homem.
Enkidu então retornou para a mulher. Ela o convenceu a ir
com ela para Uruk. Ele então poderia enfrentar o poderoso Gilgamesh, cujos
feitos ela lhe narrou. Mas ela também lhe avisou que a sua força era
extraordinária e ele saberia da sua chegada, pois seria avisado em sonho.
O sonho realmente ocorreu, e Gilgamesh o descreveu para sua
mãe, Ninsun: "Um meteoro caiu do céu, Gilgamesh tentou levantá-lo, mas ele
era muito pesado. Toda a gente de Uruk veio e lhe beijou os pés. Ele exercia
sobre Gilgamesh uma grande atração. E você afirmou que ele era meu irmão."
Ninsun lhe disse que Gilgamesh e essa "estrela do
céu" iriam se dar bem. Gilgamesh então menciona um segundo sonho, em que
Enkidu aparece representado como um machado que ele deseja muito.
Enquanto isso, Enkidu e a prostituta estão a caminho de Uruk
e, durante o trajeto, ele caça e come lobos e leões, protegendo os pastores da
região. Um dia, aparece um homem contando que está fugindo de Uruk, onde
Gilgamesh "faz coisas estranhas", e Enkidu decide ir desafiá-lo.
Ao chegar a Uruk os dois lutam, mas depois de um tempo
percebem que algo os impede de continuar. Então viram grandes amigos.
2. A jornada pela floresta
Gilgamesh tem um sonho e o compartilha com Enkidu. Tomado de
angústia, Enkidu explica que o significado do sonho era que Gilgamesh seria um
grande rei, mas que não deveria abusar de seu poder, e que ele, assim como
todos os homens, estava fadado a morrer. Gilgamesh nunca iria gozar da vida
eterna.
Gilgamesh propõe, então, que ambos façam a jornada até a
floresta para matar o gigante Humbaba, para assim gravar seu nome na história e
erguer um templo aos deuses. Enkidu diz que isso é uma má idéia e que deveriam
primeiro pedir permissão a Shamash, o deus do Sol, que era o dono da floresta.
Gilgamesh leva dois cordeiros brancos até Shamash e pede
proteção na tarefa, prometendo presentes e louvores ao deus em caso de sucesso.
Shamash dá seu apoio a empreitada, e até manda fazer armas para os guerreiros:
um machado e um arco que pesavam 27 quilos (60 libras).
Gilgamesh anunciou, então, ao povo de Uruk o seu desejo de
lutar com o gigante. Eles ficaram receosos com a notícia. Gilgamesh e Enkidu
decidiram pedir o conselho da rainha Ninsun, e solicitar que ela rezasse a
Shamash pedindo a sua proteção. Ela o fez. Os conselheiros de Uruk também deram
conselhos. Disseram que Enkidu deveria ir na frente, pois já possuia
experiência em muitas batalhas.
Os amigos iniciam a viagem. Entre a chegada a floresta e o
encontro com o gigante Gilgamesh têm uma série de sonhos proféticos, que
compartilha com Enkidu.
Mas um dia, quando Gilgamesh derruba um cedro da floresta
com seu machado, o gigante ouve e fica muito furioso. Enkidu demonstra medo e
quer retornar. Quando o gigante aparece, Gilgamesh pede a ajuda de Shamash que
envia os oito ventos. Os dois então se põe a cortar as árvores e isso deixa o
gigante mais enraivecido.
O gigante implora para que Gilgamesh poupe sua vida, mas Enkidu
o convence do contrário. Eles o matam e apresentam a sua cabeça em oferenda aos
deuses. O deus Enlil, irritado, os amaldiçoa, e dá os setes esplendores do
gigantes a outros seres da natureza.
3. Ishtar e Gilgamesh: a morte de Enkidu
A beleza e virilidade de Gilgamesh chamaram a atenção da
deusa Ishtar. Ela lhe disse que se ele se tornasse seu marido, ela lhe daria
muitas coisas. Gilgamesh retrucou dizendo que todos os amantes da deusa haviam
tido um destino ruim, e que ele não queria ser o próximo.
Em cólera, Ishtar se lamentou para seu pai Anu, pedindo que
ele lhe desse o Touro do Céu para que ela pudesse punir a arrogância de
Gilgamesh. Anu avisou que isso traria 7 anos de seca para Uruk. Ishtar o
tranquilou, dizendo que ela havia guardado grãos para as pessoas e capim para o
gado. Anu aquiesceu e levou o Touro a Uruk.
Lá ele abriu fendas no chão que engoliram 300 homens. Enkidu
e Gilgamesh então se uniram e o mataram juntos, e ofereceram seu coração em
oferenda a Shamash.
Ishtar ficou furiosa e amaldiçoou Gilgamesh. Enkidu, ao
ouvir a maldição, arrancou a coxa direita do touro e atirou no rosto da deusa,
ameaçando-a com palavras duras. Ishtar então conclamou seu povo do templo para
fazer o velório do Touro do Céu.
Gilgamesh removeu os gigantes chifres do touro que eram
revestidos de lápis-lazúli e os ofereceu ao seu deus protetor, Lugulbanda.
Depois ele os pendurou na parede do seu palácio. Eles foram celebrados por toda
cidade e, então, os heróis descansaram.
Enkidu teve um sonho em que via os deuses em reunião dizendo
que um deles tinha que morrer, pois suas ofensas aos deuses haviam sido
demasiadas. A isso houve protestos de Shamash.
Enkidu se entristeceu e ficou enfermo, entrando em estado de
melancolia, amaldiçoando o caçador que o viu e a prostituta que o tirou da
selvageria. Após ser repreendido por Shamash ele se arrependeu e trocou a
maldição por uma benção.
Enkidu teve um sonho e o contou para Gilgamesh: Um
homem-pássaro de feições sombrias o levava para o palácio de Irkalla, a rainha
das trevas. Enkidu faz então uma descrição da atemorizante vida após a morte.
Gilgamesh derramou lágrimas ao conhecer o destino final do homem.
A doença de Enkidu piorou e ele disse que seria amaldiçoado
por não morrer em batalha, tendo que se contentar com uma morte vergonhosa.
Gilgamesh chorou e discursou aos conselheiros de Uruk, louvando as qualidades
de Enkidu e todos choraram por ele. Quando Enkidu finalmente morreu, Gilgamesh
foi tomado por um ataque de fúria arrancando seus próprios cabelos. Por 7 dias
e 7 noites ele chorou por ele, até que os vermes tomaram seu corpo. E então ele
o enterrou.
Gilgamesh ordenou que fizessem uma estátua de seu amigo, com
ouro e lápis-lazúli, e então fez uma oferenda a Shamash.
4. A busca da vida eterna
Destruído pela perda de seu amigo e inconformado com a
inevitabilidade da morte humana, Gilgamesh definiu como objetivo encontrar
Utnapishtin, único humano que havia se juntado aos deuses, acreditando que ele
poderia ajudá-lo a escapar da morte.
Gilgamesh correu o mundo em sua busca, matando leões e
vestindo suas peles, no caminho. Eventualmente ele chegou a Mashu, as grandes
montanhas que guardam o nascer e o pôr do sol. Descendo doze léguas nas
profundezas escuras, ele encontrou dois sentinelas escorpiões: criaturas metade
homem, metade dragão capazes de matar com o olhar. Cobrindo seus olhos,
Gilgamesh anunciou o motivo da sua vinda. Os sentinelas o deixaram passar, por
ver que ele era um homem sem igual.
Depois de 12 léguas de caminhada na escuridão profunda, a
luz do sol apareceu. Gilgamesh chegou ao jardim dos deuses, onde arbustos eram
carregados de pedras preciosas.
Shamash o viu e o advertiu: ele não iria encontrar o que
procurava, a vida eterna não estava a seu alcance. Siduri, deusa do vinho e da
cerveja, o viu chegando e, sem conhecê-lo e notando sua expressão sombria,
tentou fechar a porta, mas Gilgamesh a impediu e declarou em altos brados os
seus muitos feitos.
Siduri respondeu perguntando: se ele realmente era tão
extraordinário porque estava com uma aparência tão repugnante? Gilgamesh
respondeu contando a sua história e o seu objetivo.
Ela lhe avisou que a imortalidade não estava disponível aos
homens, e que ele deveria aproveitar os benefícios da existência humana.
Gilgamesh se recusou e ela, então, lhe disse para procurar Urshanabi, o
barqueiro de Utnapishtin. Ele possuía os objetos sagrados e, talvez poderia
levá-lo pelo oceano intransponível até Utnapishtin.
Gilgamesh destruiu os equipamentos da embarcação em sua
fúria, e Urshanabi lhe perguntou porque ele parecia tão abatido, ao que
Gilgamesh contou novamente sua história e lhe pediu para levá-lo até
Utnapishtin.
Urshanabi pediu para Gilgamesh cortar árvores porque, ele
havia destruído o equipamento do barco antigo. Ele então iniciou a viagem e
quando chegaram as águas da morte, depois de três dias no oceano, ele pediu
para Gilgamesh colocar as toras na água e partir sozinho, e assim ele chegou ao
destino.
Utnapishtin o viu chegando e perguntou a razão de sua vinda.
Gilgamesh lhe respondeu e pediu como encontrar a vida que buscava. Utnapishtin
fez um discurso moralista sobre a natureza da vida e da morte, mas Gilgamesh
lhe perguntou: Como ele, um homem, havia chegado ali e ganhado a vida eterna?
Utnapishtin decidiu então contar a sua história, que até
então era um segredo dos deuses.
5. A história do dilúvio
No passado, os deuses haviam decidido exterminar a
humanidade. Enlil era o mais irritado. Todo o alvoroço humano era intolerável e
não o deixava dormir.
A deusa Ea, desejando salvar o mundo, alertou Utnapishtin em
sonho, mandando que ele construísse um barco e levasse consigo "a semente
de todas as criaturas vivas".
Ele pediu como explicaria para a cidade o que fazia e o deus
disse para mentir e dizer que o deus Enlil estava furioso com ele e que, por
isso, ele partiria da cidade e a cidade teria abundância. E ele iria morar com
seu senhor Ea.
Então, ele construiu o barco em 7 dias com a ajuda de sua
família, e colocou nele todos os animais e tudo o que precisaria para
reconstruir o mundo. A tempestade logo veio, e foi tão violenta que assustou os
próprios deuses, que fugiram. Diante do terror do que haviam feito, todos os
deuses choraram, e choveu torrencialmente por 6 dias e 6 noites.
A humanidade havia virado argila, e o barco eventualmente
ficou preso ao topo de uma montanha. No sétimo dia Utnapishtin soltou uma pomba
que retornou, ele então soltou uma andorinha e depois um corvo, e esse último
não mais voltou.
Utnapishtin então fez um sacrifício e um grande banquete
para os deuses. Todos vieram para comer, menos Enlil, o causador do dilúvio.
Quando ele finalmente chegou, ficou enraivecido, porque um homem havia
sobrevivido. Ea discutiu com ele, perguntando como ele pôde ter a audácia de
dar um castigo tão desproporcional à humanidade.
Os deuses então se reuniram e decidiram tornar Utnapishtin e
sua mulher imortais, para que pudessem viver com os deuses.
6. A volta
Voltando ao local onde a história estava sendo contada,
Utnapishtin diz a Gilgamesh que lhe concederá o que quer, ele só precisa não
dormir por 6 dias e 6 noites. Gilgamesh entretanto cai em sono profundo quase
instantaneamente.
Depois disso ele o preparou para partir, mas antes que ele
fosse embora, Utnapishtin lhe confidenciou um segredo: Existia uma planta com
espinho sob as águas, se ele conseguisse pegá-la, ela lhe restauraria a
juventude.
Gilgamesh entrou na água e pegou a planta, mas decidiu não
usá-la por enquanto. Quando chegasse em Uruk daria aos anciãos para que
voltassem a ser jovens, e depois ele mesmo comeria. Começou então sua viagem de
volta com o barqueiro. No meio do caminho parou para se banhar em um poço e uma
serpente roubou a flor, para sua grande lamentação.
Ao chegar em Uruk ele se vangloriou para Urshanabi da grande
cidade que havia construído, e então descansou e gravou em pedra a sua
história.
7. A morte de Gilgamesh
Aclamação final de Gilgamesh, louvando os seus feitos e
descrevendo o lamento da cidade de Uruk após a sua morte. Além de falar das
oferendas feitas a ele e à todos os deuses no dia de sua passagem. A estória
termina louvando os aspectos humanos e mortais do herói, e frisando mais uma
vez, a inevitabilidade da morte para os humanos.